Potencializam-se falsos sentidos
E esquecem-se alguns sentimentos

Ainda há instintos puros
Que não se confundem

Ainda há afectos
Que nunca sofreram o tempo

Ainda há razão
Para que se permita
O livre existir

Ainda há o Homem
Para que se vença
E a História
Para que se revele
E aceite
E se evolua

A sobrevivência é um inquietamento  constante,
em todo o ser vivo.
A Natureza é cruel,
é-nos cruel.

Se Deus nos tivesse gerado
nada disto, assim acontecia.

E se criados tivéssemos sido
à imagem de um ser superior,
mesmo maior,
mais evoluído,
seria igualmente cruel,
ser-nos-ia cruel,
fatídico.

A superficialidade do mundo
é o escape ao imundo.

A real idade
dói.

EROS e PSIQUÊ
A união entre o Amor e a Alma;
o amor eterno.

Há quem manifeste seus interesses,
Como se fossem, também,
Os de todos,
Verdades sem cera.

O hipócrita continua fora de cena,
É e será esse o seu lugar
(Mesmo que se julgue num qualquer desempenho).
Ou profetizando o seu delírio,
Com quem diz segui-lo;
Conveniência de enjeitados.

Se for alto o mar
Navega-te de marés
Até que te percas no horizonte
De todas as vistas
Deixa que o vento te sopre as vestes
E colhe em cada onda
Um sonho-peixe
Deixa que a deusa
E a sereia se cubram
Uma de azul e oiro
A outra de conchas algas e verdes
Antes que o Sol penetre as últimas águas
E segue cada barco
Como um beijo meu
Até à praia de todo o desejo
Aquece a noite
Com xaile negro-saudade
Reflete-te no crescente de cada lua
E flutua sobre esse mar de prata
E espera por mim à beira da manhã
No dia que nos acontecer
For só nosso

Não é o topo
Que se pretende alcançar
Nem é deixar de não-ser
Só para que se seja
Apenas mais
Mais e mais
Mas sim o centro

Valham-me os saberes
Já que os homens de deus(es)
Não param de me iludir

Grande e rochosa é a montanha
Para que tanto possa alcançar
No luxuriante vale
Ainda (sobre)vivo
E é tudo que sei

Não há arco-íris para paraíso
Nem grinalda que salve dessabença

Ser instrumento
Do que não transforma
Apenas se repete
Estreitos paradigmas
Cordeiro
Do que também permeia
Cúmplice
De um passado menor
Sem que o olhar surja
Abrangente
Quebrante de silêncios
Vazio de sonhos
Insensatez
De inflexíveis ponteiros
Horas pobres
De praças vazias
Casas despidas

Correntes douradas
Soam

É não ser
Existir

Sentimos
Mas devemos sempre procurar sentir
De outra maneira
Cada um à sua maneira
Cada vez mais despidos
De tudo o que nos influenciou
E negou a vontade

Longe está o primeiro dia
Para que estejamos mais perto
De ser cada Eu hoje

Para quem é bem-andante
Até a contrariedade
É uma bênção
Para quem não se sabe
Tudo anda meio perdido

Encontra-se nos opostos
A resposta que nos procura
Por o que tememos
E rejeitamos
Por o que é desejo
Sem que faça parte de nós
Como nos afirmamos
No que possuímos
E partilhamos
Como nos expressamos
Sob o que nos rege
Como sentimos
E servimos
No que se (re)cria
E como nos agrupamos
Como enfrentamos os deveres
E gerimos o caos aos nossos dons

Há uma vida tão nossa
Inteira
Autêntica
Que se vai fracturando
Quando a damos a outros para cuidar
E o adiar constante ao milagre
E o escapismo ao que nunca acontecerá
E o beijo eloquente por um sonho
E a morte
A morte que nos valha
A que obrige
A caminharmo-nos
Tão sós
Para que a mereçamos
De cada vez
Sempre que sem querer
A chamemos

Ser objectivamente bom
Ou perverso
Luz
Ou Sombra
Anjo
Ou bruxa-má
No universo
De cada um
E todas as possibilidades
Não sei

Sei
Que cada Ego
Se satisfaz
Diferentemente

E há uma casa
Que julgamos
Ser segura
Um espaço
Meramente emocional
Que trai constantemente
A razão de se ter corpo
Para qualquer sentir
E ser o caminho

A anomalia
É não resistir

Será que é preciso dizer o que se sente
O que se sente é quase sempre difícil de dizer
Dizer o que se sente fica muito aquém do que se possa sentir
Dizer por dizer
É por pouco ou nada ter sentido
Não é preciso dizer o que se sente
Mais do que dizer
É ser-se inteligente
Sentir
Apenas sentir o que se sente