segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Gosto dos medíocres,
quando a sua mediocridade
passa por não quererem ser demais,
mas apenas excelentes
no melhor que são e fazem,
por bem.

De deslumbrados
andam os ouvidos cheios,
sem que o essencial desça à rua;
a intelectualidade do umbigo
não é cebo para o pensamento.


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Ontem, será sempre já tarde
aos olhos de cada manhã.
Hoje, ainda é cedo demais até que tudo aconteça.
Mais logo nos virá a confissão
sobre o instante
do que será este futuro,
desde ontem,
até ao que, não mais haverá
e reste.
O instante que se perpetua
é o dos ponteiros do pesar.
Eu sou...
Eu serei sempre qualquer coisa
solidariamente.

domingo, 17 de setembro de 2017

Quanto menos disseres,
mais maturo serás.
Porque se souberes escutar
entenderás o barulho.
Pensa.
Pensa; não deixes de pensar.
E jamais te distraias em silêncio com outras palavras.
Cria no silêncio de ti,
o Verbo que ressoe
e seja apenas proferido in alma.
Nunca te atraiçoes
usando os outros, em palavra,
como roupagem de vis silêncios.
Pensa.
Pensa com simplicidade.
E sente o que te podem trazer os ventos
que nunca param de suscitar.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Escrevo-me todos os dias.
E passo-me a limpo,
para o papel,
quando tenho tempo
para me fingir de poeta.
A minha caneta
está esgotada
de tanta dor
e sem tinta.
Quero libertar-me
das crostas empedernidas
e curar-me das chagas 
que teimam em não cicatrizar;
envoltas de pus,
infectadas de raiva...

Quero ter na vontade
o segredo da cura,
a percepção do tempo da dor,
e resistir à constante comichão,
para que não volte a sangrar,
pôr o dedo na ferida,
num escarafunchar de confronto
com mágoas.

Quero uma pele limpa de cicatrizes,
sem vincos de receios mal dormidos,
nem rugas, de tristezas guardadas
e muito menos golpes que me trespassem a alma...

Quero que seja o espelho que me mire.
Olhá-lo?!
Não me pretendo mais magoar.
Eu pensava de ti
o que queria sentir,
e acreditava no que via
quando exibias para mim
o que em ti desejava.
Eu não sei quem tu és.
Tu, pelos vistos, também não.
Prefiro padecer
de vaidosa eloquência,
do que sucumbir envenenado
na farsa da abnegação,
humildemente pobre,
despojado de máscaras
ao enredo deste proscénio,
repleto de dramas,
de duplos
e de prestáveis à figuração.

Serei um dos principais
nos papeis de actor
e o contra-regra
no contracenar
da personagem.
Morrerei
no final de cada acto,
Legando ao palco
o pó;
estreados sorrisos,
enregelada tristeza
do teatro
da minha alma.
Em cada favo de mel
se constrói a doçura plena
Do vitae enxame.

Em mãos,
unem-se retalhos;
obrada colcha
que te cobre
do mundo
aos pés.
Crescem-te,
dispostas letras,
ajardinadas
em jeito de escrita.
E as palavras
Correm como rios;
a tinta
que de tuas mãos
nasce.
Trabalhosamente
crias
as crias
e crias
por amor.
Nunca conseguirei ser,
enquanto houver
quem não seja
tudo
in Todo,
no essencial.

Paciente,
espero,
como os que tento
alcançar.
Nunca serei
ninguém.
Felizes são aqueles que querem o que é pouco
e lutam desesperadamente por terem esse todo.
Há tanta pobreza de contentamento,
como pedras da calçada presas entre si,
que se gastam e erotizam de tanto pisadas.
E fontes pingando marés,
como se cada onda fosse um oceano.
E presunçosas rosas que espinham caminhos,
como se não fossem apenas rosas presas de seu jardim
e da beleza que flore as vistas.
E as meretrizes que enlouquecem os seus supostos homens,
como se escravos fossem do orgasmo de sua frigidez.
E no desvario dos perigos a mostrenga feita astuta
não se condena aos seus crimes
e teima em pisar tapetes que amorteçam a culpa.

Há tanta vítima de aldeias que se constroem
na insipiência, como adornos com que se vestem,
sem imaginarem o infinito que ensandece os que o pensam,
e as divergências de todas as florestas,
e latitudes da gnose das virtudes,
e poeiras de todos os abismos que nos habitam...
Eu gostava de ser feliz
confirmando que há uma verdade
e solicitar-me a ser vendido pelos que a regem obtusos.
Tenho a tristeza das centopeias, feridas
por seus muitos pares de patas,
esgotadas nas dores do caminho,
e das cigarras condenadas pelo formigueiro.
Eu aprovava que houvesse um deus para a vida
e outro para a morte,
para ter o ensejo de escolher a minha fé
e ser salvo ou tão eternamente descansar.
Nasci, 
para revoltar-me;
não ser por mim,
mas em todos,
bem arejado
e por Logos,
e enquanto me aconteço
e acredito.
O que te poderá levar a que me saibas
para além daquilo que tu não és?
Somente te permites saber
no pouco que em ti entendes.
Se não houvesse Sombra
que te doesse,
então descerias
com elevação
à intimidade que nos soubesse bem
e serias maior e mais,
serias muito
e eu seria também.
Não me deveriam cobrar
pelo que executo
com as armas de mim,
ou pelo que dou
de graça,
só porque também adquiri,
e satisfiz...

Inventem a moeda
que só a ela se pague,
em toda e qualquer
transacção.
Só dinheiro
deve dinheiro,
e ser controlável
até ao ínfimo
de seu valor.
Falta-me a humildade suficiente,
para que me consiga entender
sem conflitos.

Admiti-lo,
poderá significar,
que esteja mais perto
de alcançar o sossego
ou seja mais uma das farsas do engano
de um orgulho,
que não desiste de exacerbar-se.
O caminho é apenas um,
mesmo que se fuja,
para que se dê outras voltas;
milhentas, que sejam...
Sempre se volta,
para que se continue,
até que se justaponha essa vontade,
com a do carreiro do fado,
na aparente complexidade desta existência.
A superioridade
da raça
está na forma
como se ama,
não, como se destrói
ou subjuga.

Quero ser lembrado
por nada ter possuído,
apenas (re)criado.
Marcar território?!
Isso é coisa
de cão.
Três;
triângulo,
tempos,
virtudes,
democracia.
O enxofre, o mercúrio e o sal.
Os três céus.
Três sortes,
três (sem) reis,
e três de Deus, etc...

O quatro da cruz.
Quadrado.
Quatro; mares e ventos,
e os pontos cardeais.
Quatro sóis,
e estações.
Fases da Lua,
dinastias,
elementos,
e as letras do nome de Deus...
Sete;
rios e colinas.
Sete pecados,
capitais.
Sete selos
e trombetas.
As notas musicais.
Sete chakras,
sete vidas d`eus...
E o sétimo fado perecerá no horizonte.
Outras vozes,
outros números;
novo destino,
fado, outro,
império serão.
Dou o que consigo merecer,
recebo como sei possuir.
Não faço caridade
com o que me sobra,
reparto-me, antes na riqueza
que me escasseia.
Desconstruo-me
de personagens
aos frágeis olhares
de complexas máscaras
e firmo-me no tempo
com o que enfim provo.
Nunca serei mais
do que sou,
para que, também,
sejas tu,
e eu.
Navego numa caravela
de esperança,
sobre as ondas inquietas
de um mar ainda revolto.
Espero dar à costa
numa ilha,
ainda selvagem,
sem medos,
sofrimento,
vícios...
E aprender a viver comigo
em paraíso,
sabendo a mar
ou amar.
Quanto mais cobiçamos,
menos somos.

Nem sempre o que queremos
convém à nossa essência.
Há riqueza em nós
por inventar
e não no que outros têm.
A matéria é efémera.
Temos armas;
darão fortuna.
Façamo-las
dia a dia.
Vacilo,
em desassossego,
entre o peso
da placidez,
aprisionado ao regalo
de originais raízes
e as asas
presenteadas
pelo instinto indiscreto,
que me inflama
à liberdade,
à façanha aos mundos
por desbravar.

Persegue-me
o que inevitavelmente
desconhecia,
ao esforço do bloqueio
pelo apetecível.
Ocupo-me
dos limites do meu espaço,
quando irresistivelmente
penso infinito.
Navego
na expectativa
de um qualquer rio,
acendo-me
de Sol
atiçado de consciência,
afogo-me
na felicidade
que me desagua
e recuso
debruçar-me
ao pântano
das inculpas
e dos medos.
Quero voar,
Sob oiro
e no azul,
de sabiá.
Outrora, faziam-se casas voltadas para a rua,
hoje, constroem-se, para ninguém...
Vive-se em solidão,
para a solidão.
Mesmo que se abram outras portas,
e embora se chegue tão longe,
nada se sente perto,
nem alguém nos é tão conhecido assim...
O que importa é quando estais por aqui, comigo.

Conquanto somos vento.
Mas também somos gente,
morando onde merecemos
e acreditamos existir.

domingo, 3 de setembro de 2017

Nunca sentencies os outros
por aquilo que és.
Aceita-os apenas como se apresentam
e confina-te a constatar
o que em liberdade conseguem conceber,
para que aprendas a reverenciar
a tua própria individualidade.
Tudo é bem mais
do que o que mal se vê
e somente tu.
A humildade é uma virtude.
A insolência uma debilidade.
Na simplicidade do envoltório,
domicilia a intemporalidade do gosto dos costumes.
O corpo puro desnudado
made in Amor,
nunca sairá de moda.
Tudo é um mistério,
até ao que me proponho,
sem nunca perceber bem a razão
do que ao certo me motiva
e me impulsiona
a esta constante procura
e mutação.
Os versos são como rios,
difíceis de trancar
dentro da nascente
de todas as recordações,
e pesado é o mundo
que carrego,
sem nunca entender

se é mal
ou bênção.
Mas valha-me o amor,
porque só nele
me acredito
e conduzo,
mesmo como poeta,
esperando que a vida se escreva,
mesmo de poucos cantos,
mas belíssimos
em poesia,
Fui ver-me,
no jardim a brincar,
pedalando com vontade,
o triciclo da esperança,
a sorrir.

E Chorei.
Saudades
daquela criança
e do mundo
que sonhei.
Os que se encontram a sul
prendem-me ao que já não serei.
Os que ocorrem a norte,
constam desta metamorfose
que flui até onde tiver de chegar,
enquanto ao centro do Todo,
cingido pela esfera dos deuses,
sofro o equilíbrio do sem tempo,
ao eterno caminho do agora.
E um rio são meus pés,
e a glória um rochedo que me pesa ao alto.
E haverá sempre um Eu à minha espera
fazendo-se passar por outro(s).
E o primeiro choro é o da criança,
e o derradeiro é o do saber em silêncio,
por o que se provou
e do que ficou por haver.
E os Nodos trespassam a alma,
apontando o sentido da digna fortuna.
Início 
é referência.
Caminho
é união.
Fim
é propósito,
e (re)início.
E inteligência
é tudo.
Olhar é muito.
Gosto de procurar o infinito
quando os meus olhos se perdem nos teus
e viajo ao pensamento da mais profunda abstração,
onde mora o entendimento que não sabemos coligir.
E abro-me num sorrio de prazer de deuses,
pelo oceano onde me levas como ninfa ou sereia,
e cerras timidamente as pálpebras, quebrando de mim teu belo ver.
Deixas sumir-me em anseio, sem saber mais, sem te ser mais,
e agarro a tua mão, e dás-me a mão,
e não há mais espaço que nos desagregue.
E o beijo de todos os que se amam arde além-lábios, em nós,
e não há mais forma para tanto sentir, não há razão que nos desenlace,
Viole a liberdade de descobrir amar.
Olhar é muito.
Nunca deixes de olhar para o amor que te sente,
para que sintas sempre amor no olhar.
Não deixes que nada nos impeça a este olhar.
Já não é tempo de falsas crenças,
nem de sermos in banho de multidões. 
Olhemos apenas o céu que com cada um condiz
e também, quem está a nosso lado de mão estendida ou quer abraçar.
A felicidade está onde não a procuramos
e na simplicidade de ser somente quem somos,
resignados a qualquer fim,
depois de despertos para todo o saber que nos amanheceu.
Saibamos ganhar o hábito de não ter hábitos
e desfazer vínculos à utopia que quebre a liberdade que quer bem.
Jamais deveremos admitir o que limita à descoberta da essência da fé,
para que descubramos o deus maior de cada existência.
Divícia,
não pelo que se possui,
sim como se gere.

O preço dado às coisas
revela o valor de cada um.
A herança maior de qualquer ser vivo
é o bem da vida,
que melhor viva,
para além de tudo.
Se sei fazer melhor, não sei.
Talvez se ousasse ser o que sou,
compreendesse todo o sentido do sentir
e se abrissem outras portas de mim,
para que voasse para além da anilada cúpula,
que sustento e tanto pesa de infinito e sóis,
e me soltasse das raízes, cada vez mais fundas por sede,
nascidas pelas passadas de outros, que inibem esta figura à autenticidade,
trespassasse qualquer espelho, polido por tantas águas,
para que do avesso me olhasse
e te visse como já fui.
Todo o animal morre durante o caminho,
quando o fim está na pressa de chegar onde nunca esteve
e queira tão somente agradar quem diz que ama e aceita,
sem que nunca se ame e se aceite e seja e viva.
Só me debruçarei sobre a paisagem
para sentir o que lá há,
depois de me esgotar ao que vim e faço.
Se houver alguém que repouse na tranquilidade dos dias
é unicamente fogo-fátuo.
Por muito que se queira saber, nunca se sabe o que se saber.
Qualquer pretensão tem um maior carrego em outro lado
e divino é quem não crê para se salvar
e terreno é imaginar-se deus para se redimir à sua condição.
Se sei fazer melhor, não sei.
Faço o que sei para o que serei,
sem nunca ser o que desejo ser.
A barca navega em mim
e timoneiro é o tempo
e nunca é tarde, antes de anoitecer.
O meu corpo pode levar-me até ao fim da minha rua.
Minha mente não sei até onde;
basta que devaneie, para que velozmente se transcenda pelo infindo imaginativo.

Bom é quando meu corpo fica nave de todas as sensações
e se descobre capaz de ir além da minha rua,
sem que se importe até onde a ideação o deseja realizar,
sem que nunca me afaste de onde sou.
Nem sempre o entendimento de outrem é meneável o suficiente
para que corpo a corpo se vença os bloqueios de muitos caminhos
e desvele os mistérios da querença,
haja cumplicidade de satisfação volúvel.
Tantas pessoas em
Pessoa e
mais Pessoa(s).

Somos Pessoa,
de Fernando,
por se cumprir.
Apessoado
poeta,
iluminado
Mar Pessoguês.
Não queiras ser perfeito.
Ama somente aquilo que fazes,
e faz tudo com amor
e por amor,
e assim te encontrarás
bem mais perto do que te fizeram crer;
querer ser perfeito
mas sem que alguma vez
o que fores,
seja por perfeição.
São tantos essoutros a doutrinar,
que difícil se torna preferir o caminho.
Olha-te.
Aprende a ver-te
e escolher-te,
mais que tudo
e todos.
Vida,
frequente Primavera,
não saudosista
desculpa,
nem desistência,
por triste
espera.
Deverei renascer
a todas as horas,
para que o milagre
continue.
Olhei-me
ao espelho
e não me reconheci.
Olhos nos olhos
tentava compreender,
aquela imagem,
tão desfocada
e irreal.

Assustei-me.
Tentei fugir de mim.
Olhei-me,
como me vêem
e lá estava, outra vez,
a minha pessoa.
Há pessoas, a quem um simples espelho faria toda a diferença
e lhes seria deveras útil,
se nele, se conseguissem olhar,
mesmo por poucos minutos que fosse,
e ver o que de tão pérfido lhes sai de dentro,
para com aquele(s) que caprichosamente escolhem como vitima(s)
da sua perversidade e loucura cegas
e assim se libertassem de vez
de vícios, medos e da culpa que as corroem,
e se perdoassem.
Há sempre, em nós um fantasma,
que nos leva a querer fugir
ou ter de enfrentar...


Estamos condenados a desenredar o bem do mal
e fazer as escolhas possíveis,
pois é possível a qualquer momento preferir.
A liberdade é um sonho,
porque sou um prisioneiro.

As grades impõem-se,
constringindo o espaço de ser.
A norma maior é a ganância
e não há piedade
na vil disputa.

E eu recrio cárceres,
para que não me resigne à realidade.
Serei livre,
quando já não houver condenados
e estiver despojado de insignificâncias
e a verdade for cooperação.
Está aí, alguém
do outro lado de Mim?

Responda.
Aja.
Ninguém responde.
Parece não haver
já, quem nos consiga
dar Alma.
Quem existe e pode está na Sombra
e traz-nos mais escuridão.
Haja Luz,
esperança d` Alguém
com espada, nobre,
e Lis no peito.

Está aí, alguém
do outro lado de Mim?
Responda.
Aja.
Ninguém responde.
Parece não haver
já, quem nos consiga
dar Alma.

Sei de quatro árvores que, em duas décadas, 
conseguiram criar raízes no meu coração,
fazendo sombra à minha Sombra.
Dão-me por entre os verdes de todas as horas
a lucidez do inatingível.
É sempre uma ventura ter vida que nos ampare o caminho,
com a discrição que distingue a sapiência de uma eternidade;
receptáculos de todos os universos,
na minha passagem mais secreta,
e tão simplesmente árvores, ao primeiro olhar.
No quarto do dia mora o fim da tarde 
e as sensações alteram a razão da noite. 
As ondas dos oceanos navegáveis 
pelo amor infinito, brandem-se,
obscurecidas por uma nuvem que caiu, de tão negra,
e se confrontam com os investidos de sabedoria,
que retrocedem na sua órbita maledicente.
Os ventos embainham as suas espadas
esperando que este tempo sucumba ao Tempo,
enquanto o velho Ego da humanidade faz estremecer
os alicerces do fundo do céu,
para que a consciência não se confunda
e nasça depois, apenas como manhãs.
Hoje, os deuses descansam,
depois de tanto porfiar.
Amanhã, serão de novo estimulados,
pela incerteza dos ventos,
à disputa pelo avito de toda a simbolização do poder.
E as crenças vestir-se-ão de homens
e os homens acreditar-se-ão como deuses.
O que te poderá levar a que me saibas,
para além daquilo que tu não és?
Somente te permites saber
no pouco que em ti entendes,
se não houvesse Sombra,
que te doesse.
Então, descerias
com elevação
à intimidade que nos soubesse bem
e serias maior e mais,
serias muito
e eu seria, também.
Posso querer sentir,
mas só sei o que sinto,
quando sinto, 
e se com quem sinto,
mesmo que não seja bem aquele sentir,
o que sinta,
porque há sempre outro sentir
para o sentir,
ou sentir,
até que se sinta o que se faz sentir,
por sentir sentir
e seja sentir
todo o sentir,
para que me sinta
e seja sentido
e o que se sente.
Sabia-se que alguma coisa estava mal, 
mas não era suposto ser tão grave.
Há sempre esperança de que nada aconteça pior que antes
e surja aperfeiçoamentos que levem a uma cura admirável e que mais não sobrevenha.
Não é conveniente que se pressinta.
O segredo da decadência é importante sustentar.
Não dissolve um qualquer homem pela sua suposta lucidez, o que se construiu desde sempre de embustices, 

por uma malha de bandos e poderes.
E é conveniente que o delírio seja sempre um bem-comum não traduzível e contestável.
É difícil perante, tanto confrontar, o que contrarie o sonho que está em outro sonho,
e que também é idealizado dentro de um sonho,
e ainda o sonho, que se procura em tantos sonhos,
e o sonho se constituiu razão,
e a razão abafa, castra, quem sonha, com o sonho da condição mais inocente;
o sonho que questiona o que não deveria nunca ser controvertido.
Sabia-se que alguma coisa estava mal, errada,
mas não era suposto ser tão grave.
Foi hoje, diagnosticado um câncer incurável à Humanidade.
Não foi dito (não se sabe ao certo) quanto tempo mais haverá até perecer.
O que foi sonhado foi, que a multiplicação desordenada não será mais possível suceder.
Eu sou mais importante, 
quando me dão importância,
principalmente por me relacionar 
com outros ainda mais importantes.
É muito importante
só me dar com importantes,
para que não me sinta sem importância.
Todos os importantes,
mesmo que não sejam bem importantes,
mas porque há outros possíveis importantes
a dar-lhes importância,
são sempre importantes.
Eu quero pertencer à classe dos importantes.
Eu quero, portanto, ser importante
neste mundo da felicidade da importância.
Faço amor comigo,
entre olhares
de Lua
ao Sol,
casando o corpo
com a mente,
unindo a alma
a Deus,
contemplando
o êxtase sublime
da unidade.
Faço amor comigo,
envolto em sensualidade
e de gente,
separado
de todo o preconceito.
Quero ter o sonho que me acorde,
a esperança que me mantenha vivo,
a ilusão de que valho,
a fé para que me acredite
e as dores naturais do crescimento...
Quero ser eu,
se souber o que ser,
enquanto houver tempo que me conte,
e na lucidez que me compromete,
e com a força, para que me habite, que persiste...
E tantas vezes, que me sinto uma marioneta,
sem saber ao que sirvo,
quem me mexe
e onde tudo acontece,
que quaisquer coisas que pretenda querer
será sem querer,
apenas por almejar humildemente crer
que haja o que me complete
no Amor que ainda busco.
Entro num templo e oro
a Deus e aos santos
para satisfazer
ou aquietar os que em mim,
têm forte crença no divino
ou temem a desgraça.
No entanto persisto em me pensar
no agnosticismo.
Quanto mais se finge
o que não se é,
mais se é o que se finge,
e longe está de se entender
e viver o ser que lhe estaria destinado.
Ontem, já era tarde,
Agora, ainda mais.
Mas até ao fim há tempo para conquistas
e será, de desassossegos, no eterno limite do abismo,
que surgirá um outro Eu,
feito de labutas e consolos,
(im)perfeito, autêntico, humano...
Por muito que diga
nunca me ouvirei,
antes que viva,
o que sempre me falei.
Só, batendo a calçada,
se sente cada pedra que se pisa,
no preciso do momento.
Não devo obedecer ao redutor medo,
nem ser convencido por desmesurado optimismo,
ser filho deste incestuoso casamento com o mundo,
nem, pactuar, por sombras, com tamanha ancestralidade;
a ambição do poder que elege ao nada,
movida pelo desejo mais profundo de tudo...
O desassossego de revolta;
o vento que sopra diferente
e profana a instituída quietude.
O grande ideal,
que se consome no inatingível,
dissolve o chão, com o mar
e apaga o céu, com negra nuvem,
das Inverdades.
A existência é o já,
porque longe demais, está tudo
o que acontece, agora,
e nada poderei inovar, senão me continuar,
sem que abone o que me resulta lá fora.
O sonho
é maior que eu,
para que me imponha
a não o viver.
Mesmo que me (des)iluda,
não me resignarei
à força da gravidade,
à cristalização...
O sonho
leva-me ao melhor de mim.
Eu, homem
no que me vejo,
cobiço e careço...
E deus de todo este universo
que em mim se perde,
sem que o pense,
respeite...
Nunca me saberei
até ao ínfimo dos reinos,
sejam quais os limites.
Serei eu que me conduzo
ou será este mundo que me leva?

sábado, 2 de setembro de 2017

Prefiro não preterir o mal,
para melhor me redimir,
do que me esconder bem
na presunção de santo.
É pouco o que julgo ser,
mas também há tudo
o que todos são.
Quanto mais me acho na diferença,
mais me concluo igual.
O longínquo passado é-nos tão comum
e presente,
recôndito no ínfimo
de nossa grandeza,
sem que quase tudo se saiba.
Deverei aceitar
a intolerância
ou pensar universo?
Todo o fenómeno tem uma origem
e gere efeito(s),
e todos os corpos
estão sujeitos às leis da física...
E que sei eu
de tudo isto,
e de mim?
Não sei.
Muito
pouco.
Não há pai que se corrija,
nem mão que se imponha,
nem modelos de virtude,
nem vergonha,
já nada para semear,
o que dê sentido e força
à vontade de erguer,
ser povo
e ter voz...
E olha-se o futuro,
perdidamente mortos,
sem futuro
que nos dê fôlego.
Mais do que, ser possuído
pelo pastor, que guia
e condena,
é ter cão,
que, guarde
e proteja,
confie,
até que se extinga,
ante, sua missão,
a própria vida,
e subsista,
para além de tudo,
a sua mui nobre
e incomum dedicação.
É-me tão difícil,
que todos, em mim,
coabitem em harmonia;
inexequível.
E assim terei de (con)viver,
até me sobressair
e saber, domar
todas as forças,
entender o conflito,
como bem necessário,
me aceitar imperfeito...
O que se nega
ou esconde
é dor maior
e cobardia
de todo o agressor,
envergado de santo
na quadratura da selva.
És poema
por escrever.
Antes vivido
nos versos dos dias,
florescido
no corpo das palavras
que correm
sempre que nos invento,
inspirado,
e me chamas...
E somos fogo
e poesia!...

Quero-te
eternamente
inacabado,
mas intensamente
rimando
ao prazer
de cada momento.
Antes, me seres,
que te (d)escrever.
Nesta mulher se cria um sonho,
todos o julgam risonho.
Ela é toda esta esperança
que se inventa, se destrói,
corre p´la dor não se cansa,
o sofrimento não a mói

De garganta escancarada
tem na voz a madrugada.
É a noite no desejo,
Sob um homem que a fatiga,
bebe da água deste Tejo,
não há saudade que a siga.
Canta em outro tom o fado,
por nunca o ter ensaiado.
Lança as mágoas na canoa,
que lhe foge na corrente
e a gaivota que ali voa,
livre, poisa-lhe na mente.
É a tarde, que demora,
Assim que vem, vai-se embora.
Formosura junto à proa,
tem na leveza a maneira,
de dançar e ser Lisboa
ao lado de uma traineira
(1976)
Se a morte é certa
e a vida incerta,
há que viver
certeiramente.
Poucos são os que crescem
e têm coragem 
de se confrontar
e vencer,
para que se cumpram.
A maioria perde-se
com o olhar
e na cobiça,
negando-se ao tempo,
que é tão pouco,
quando tanto há por fazer.
Olho-me ao espelho, debruado a talha,
luminosamente esculpida, dourada,
e pergunto-me pelo espanto das respostas,
na assumida personagem de rainha má,
quem sou, para o que dou, quem me dá.
Miro-me na volumetria das imagens,
cobertas por peles enrugadas,
vincadamente marcadas, por exageros expressivos
de choros por entre risos,
plantados nos ansiosos ritmos do tempo.
Profundos e negros pontos,
poros de milimétricos diâmetros,
sombras cinzentas,
castanhos pêlos,
brancas perdidas entre cabelos,
perfil de perfeita raiz de grego,
boca carnuda, gretada de secura,
sedenta de saudosos e sugados beijos
de línguas entrelaçadas,
lambidelas bem salivadas.
Contemplo-me fixado no meu próprio olhar
de cor baça-tristeza,
desfocando a máscara de pálido cansaço
e não resisto ao embaraço de narciso;
sou o deus que procurei e amei em cumprimento do milagre
Ou o mal que de tanto me obrigar não reneguei?
Sou o miraculoso encantador a quem me dei
ou a raposa velha, vaidosa, vestida de egoísta,
com estola de alva ovelha, falsa de altruísta?
No meu lamento, a amargura por que matei;
sangrando a vítima, trucidei-a num ranger de molares,
saboreei com as gustativas, variados paladares,
viciado no prazer da gula,
como instintivo porco,
omnívoro...
Rezo baixinho, cantarolando
beatas ladainhas de pecador
que rouba e se perdoa
a cem anos de encarceramento.
No aliciamento cobiçante por belas coxas,
pertença de quem constantemente me enfrenta,
competindo com as mesmas forças,
traindo-me na existência de meu possuir,
viradas as costas, acabamos sempre por fingir...
Entendo velhos e sábios ditados,
não os querendo surdinar em consciência.
Penso de mim, importância demais,
que outros possam entender,
como comuns mortais...
Minha é a inteligente certeza
de querer enganar e vencer.
Sadicamente esbofeteio rechonchuda face
de idealista tímido,
que acredita e se deixa humilhar;
dá-me a outra, para também a avermelhar.
Vendo-me a infinitas e elegantes riquezas,
luxúrias terrenas, orgias, bacantes incestuosas,
sedas, glamour, jóias preciosas...
O que tenha etiqueta de marca,
marcantemente conotada,
que pavoneie a intensa profundidade de minha alma.
Ah! Ah!
Salvas rebuscadas, brilhantes, de prata pesadas,
riscadas de branco e fino pó.
Prostituo-me ao preço da mais valia;
Excito-me de travesti Madalena,
ter um guru para me defumar, benzer e perdoar,
sem que me caia uma pedra na cauda.
Adoro o teatro espectacular,
encenado e ensaiado em vida,
mas faço sempre de pobre amador,
sendo um resistente actor.
Escancaro a garganta para trautear,
sem sequer saber solfejar
e gargarejo a seiva da videira
que me escorre pelo escapismo de meu engano,
querendo audaciosamente brilhar,
descontrolando o encarrilhar do instrumento das cordas da glote,
com o do fole pulmonar
e desafino o doce e melódico hino.
Sou no vedetismo a mediocridade
que se desfaz com o tempo,
até ser capaz de timbrar, sem ser pateado.
Acelero nas viagens que caminham até mim,
fujo do lento e travo demais,
curvas perigosas, apertadas,
que me adrenalina na fronteira do abismo...
Fumo, bebo em excesso
e converso temas banais por entre ondas móveis
que me encurtam a pomposa solidão...
Mas nada é em vão.
Tenho na dicção um tom vibrado e estudado
de dizer bem as palavras que sinto,
mas premeditadamente minto
e digo de propósito sempre o errado.
Sou mal-educado, demasiado carente, enfadonho,
que ressona e grunhe durante o sono.
Tenho sempre o apressado intuito do saber,
de querer arrogantemente chamar a atenção,
por me achar condignamente o melhor, um senhor,
sem noção do que é a razão e o ridículo.
Digo não, quando deveria pronunciar sim.

Teimosamente rancoroso, tolo, alucinado, perverso, mal-humorado,
vejo em tudo a maldade do pecado.
Digo não, quando deveria embelezar a afirmação.
Minto, digo e desfaço-me propositadamente em negação.
Mas fiz a gloriosa descoberta do meu crescer.
Tenho uma virtuosa e única qualidade;
alguém paciente, gosta muito de mim.
Obrigado.
Tenho que descansar.
O sonho da pobreza 
é ter o que causar invídia 
aos que também se prestam a ostentar suas posses.
O sonho dos que se enriquecem
nos engrandece;
passa por apenas ter o que são
em cada átimo,
para que gananciem em tolerância
ser tudo o que os outros
porventura jamais conseguiram ser.
Tanta pressa
de viver,

de ter tudo
e ser nada.
Avoco
nos dilemas
O vício da insatisfação
e nascem
prematuramente
enigmas.
Invento-me
ao prometido,
sem querer
esperar o hoje,
ansiosamente
só.
Crio
disfemismos
à vida,
em desiludida
felicidade
de mim.
Que mais poderei ser,
senão o amor que procuro?

E não haverá termo que omita este sonho,
nem sabedoria que evoque esta razão.
Somente em mim há precipícios ao (des)contentamento,
um tombar de pássaros inconsumptíveis, nos voos de meu páramo.
E não há cores para este branco,
nem sopros que despertem na obscuridade manhã,
nem âmago que dialogue entre si a mesma verdade
e intrepidez que quebre com malevolentes reminiscências.
Que mais poderei ser,
senão o amor que procuro?
Até que na circunstância do Incriado
se intersecte o outro mundo de mim,
no eu mais límpido de outro.
Rejeito em ti
o que em mim temo.
Quero interdepender
e nunca odiar
o teu amor.

Dou-te
o meu sorriso,
exibe-o
confiante.
Abraço-te
para que me sinta
e aceite.
No início rasguei os retratos que havia.
E queimei calendários de todas as datas.

Parti todos os relógios que ainda funcionavam.
E muitos foram os espelhos
por mim estilhaçados que brindaram o chão.
Depois, desenterrei a maior raiz que sabia
e pu-la ao Sol a dessecar.
E fiz um apelo aos deuses,
sem que obtivesse qualquer resposta.
Por fim descansei
na expectativa de que despertássemos.
Deverei ser arrogante
para com o hipócrita
ou me confinar ao silêncio,
para que seja igualmente falso?

Nada pior do que fingir perfeição
em Terra de aprendiz,
como se houvesse essa glória,
sem que se seja, antes e toda a vida, mortal.
O sonho de se fazer,
nada tem a ver com a ilusão do que se é,
porque não há verdade para a existência.
Só o tempo ditará a importância do que se foi,
por tudo o que se causou.
Deve pesar-nos a responsabilidade do futuro
e não os erros que nos ensinaram a chegar até aqui.

Talvez neste próximo ano Te devas confrontar com o que não expurgaste De estranho ou impuro de silencioso ou de mistérios E tudo se acum...