sábado, 29 de julho de 2017

Deverei contestar
os males do mundo
ou confrontar
a minha (im)perfeição?

O que me nasce
ao caminho,
Vem-me de dentro
e tem a dimensão
do que mereço
e o peso de tudo
o que (re)colhi
e acumulei
e mal vivi.
Não é o que possuo
que me enriquece,
mas o que livremente
tento conquistar,
desnudado
em mim.
Ambiciono
o que é simples
e a manhã.
Há deuses no céu
de nossas cabeças
que teimam em nos cansar,
Por tanto crermos
que nos sejam servis
por causas banais,
ao que ficámos presos.
Quando há um universo
de tanta coisa por descobrir
e gente de corpo e alma
para (nos) abraçar
e outro(s) deus(es) a louvar,
na liberdade de todo o possível.
Cada um de nós é parte do mundo,
mas não é (o) mundo.
Hou da barca,
para onde me levais?

Hou, prometedor de glórias,
com disfarces de timoneiro anjo
e que de outros desfizestes,
Como se nunca os tivesses sido;
o diabo
e o(s) companheiro(s).
Com moralidade,
na farsa do engano,
seduzistes,
ultrajastes
e nos traístes.
Não sou fidalgo
nem burguês,
nunca enriqueci
por confiar dinheiro,
não sou incrédulo
por ser imperfeito,
tenho sangue judeu
mas não sou usurário,
nem alguma vez
de procurador fiz
e também não sou sapateiro.
Tenho outras mestrias.
Procuro ser justo
sem ser corregedor
e justiceiro,
e até agora nunca
me tentei enforcar.
Falo e escrevo
sem muita à vontade,
promovo a (re)conciliação,
mas jamais serei alcoviteiro.
E tonto fui, somente
por vossa causa.
Não quero promessas
de paraíso,
nem viver neste vil inferno.
Quero um par de remos
e que se faça barca a Cidade,
bem guarnecida,
barca segura,
barca da vida...
Hou, barqueiro,
para onde nos levais,
que por aí
não queremos ir?
Largai-nos
no próximo cais.
Lá, nos esperam
quatro bons cavaleiros,
a primavera
e a liberdade.
Hou, da barca!
Hou, barqueiro!
Abaixa aramá esse cu
e despejai aquele banco.
Não olheis para o lobo, como se fosse unicamente fera,
nem para o cordeiro, como se tivesse apenas génio brando.

Há uma selva em nós por assentir,
um sentimento-mor a patentear
e uma História a reescrever,
para que não nos concebamos mais no engano
e alcancemos o viridário que nos vigia.
Ainda está verde o que verdes por aí.
Vedes o muito que ainda há para ver.
Nada no rio de teu infinito 
por entre Tânatos e Eros, 
margens a (sobre)viver e idealizar,
no equilíbrio da corrente
que leva à foz de todos os mares,
onde começa a vida
e te acharás absoluto.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Falta-me, agora, tempo,
Para ter tempo.
Houve tempos,
Em que o tempo era infinito
E eu tinha tempo
Para atentamente, viver o momento,
Como se o tempo não existisse
E somente eu estivesse totalmente presente
No cosmos de mim,
E vislumbrasse a verdade,
E experimentasse a felicidade, como eterna,
Por que a tempo estivera desperto e vivo.
E deverei eu, com tempo,
Apagar de vez o tempo
E achar-me no silêncio, acordado
E de vigia
Para que seja tudo
E uno.
Somos todos iguais
Mas queremos persistir na diferença
Ser no pretensiosismo
Mais parecidos
Com os que são melhores
Deuses imortais
Acabamos por pecar no original
Como mata-borrões convencidos
Menos idênticos
Na simplicidade da verdade
Cópias de manchas
Não definidas negras
Repetidas de imperfeição
Algumas já sumidas
Mas convictas de lucidez
E sabedoria
Apregoam teorias
Explicitam experiências
Tudo o que foi aprendido sofrido
Dominam sapiência
E a moralidade do amor
A etiqueta das boas maneiras
A mais distinta convivência
Ocultando claro às claras as suas tocas
Malabaristicamente estimulando fingindo
Idealisticamente criticando
Numa terapia de quem se procura na utopia
Acreditando ser único
O primeiro
O mais rico (em alguma coisa)
E eterno
No desejo de idealizar
E acreditar no lado sublime do ser
Tropeço em verdades
E caio magoado no chão do inevitável
Somente eu me recusei ver
Esgoto-me em dádivas
Com a determinação
De um vencido
Sou pobre
De tesouros cheio
Ainda por abrir
A chave é o Tempo
Na constante dificuldade de iniciativa
O pensamento luta aprisionado
A teorias de vencido solitário
Cercado por um mar de dúvidas sem gente
Como se sentisse nau perdida
No desassossego revolto das ondas
Que dificultam a sério o manuseamento
Do leme das combalidas emoções
Céu carregado o luto da noite
Sem constelação que desmistifique
O instinto do cio na orientação terra
Nessa constante fuga em alto mar
De ser vontade e vida
Perdendo-se de porto de valor seguro
No pragmatismo da tranquilidade tensa
Na utopia das verdades
No desespero
Sem laçadas conscientes à proa do futuro
Sem correntes, nem ventos de esperança
Sem praias que lhe possam valer
Sem a riqueza suprema do amor
Do possuir
Afundando-se só
tristemente só
Como fateixa na Sombra de todos os medos
No oceano mais profundo e silencioso
da própria existência
Já te basta a condição de parir
De carregar as culpas da traição
Na originalidade do pecado 
Envenenado de maçã
Porque te seduziu a serpente
E confrontada foste perante a verdade
Da árvore da ciência do Homem
Que criou Deus e o paraíso
Foste clonada da costela de Adão
Programada a preencher
O vazio da solidão
E abriste-te à fecundação
Nunca pondo em causa o complexo
Da frustrante virilidade
Que te magoa as entranhas
Para que se cumpra
Em certeza a continuidade
Desejando-se que em dores sangrando
Nasça de ti um varão
Outra filha da puta não
Criará sentimentos de compaixão
Serves para servir e amar
Escrava mal amada
Desejada nos vícios do prazer da carne
Mal comparada desprezada
Sentes a infelicidade
E a mágoa pela diferença
Procuras sempre cumprir
Para que sejas recompensada
Em gratidão pelos deveres
Se a coragem manifesta interrogações
És amaldiçoada contrariada maltratada
Se procuras corromper as amarras
És apagada por quem usufrui
As ferramentas das superficialidade do conviver e poder
Se te negas ao contrato de união
Submissa à constante violação
E à condição de parideira
Passas a meretriz rafeira
Sem eira nem beira
Que vive na clandestinidade da escuridão
Sem existir qualquer outra opção
Mas a mulher descobriu as fraquezas
Dos homens que carregou no ventre
Aguentando pela lonjura do tempo moralizado
Domando as lanças da brutalidade instintiva
Herança primitiva das leis da fé e dos costumes
Vencendo as eras e os azedumes
De esperança de chegar à igualdade
E assumir-se na importância
Da verdadeira força da maternidade
Dando à luz parindo um mundo
Vigorosamente escorreito humano e profundo
Sem intenção de preconceito de género
Mas pela união dos corpos em ternura
Na inteligência do amor pelo amor
Para que tudo seja pelo prazer desta aventura
No anseio eterno de se poder viver melhor
De dia
Passeio-me pelas ruas
Intruso
Anónimo
Vestido de multidão
Matando a curiosidade
Instintiva dos sentidos
Retratista promíscuo
Olhar disfarce
De vazio abstracto
Calçando o tempo
Sobre a solidão da caminhada
Captando ângulos e planos
Imagens à contemplação certa
Do prazer erotizado
Rostos belos
De semblante perfeitos
Expressões despidas de agrado
Sem sorrisos esboçados de submissão
Não forçados
Corpos puros
Desnudados pelo suor
De transparência atrevidos
Escorreitos de ingenuidade
Mexidos de desejos
Talhados de vivas formas
Curvas apertadas
De desenho intenso de paixão
Bem delineados
Na arte da procriação
À noite
Deleito-me
Embalado por estímulos inteligentes
Por palavras que me ditam
Sentimentos profundos
Que se articulam silenciosamente
Por entre erógenos lábios
Ao sabor da imaginação
Em galopante fantasia
Provoca-me
A insinuante sabedoria
De quem quer ser entendido
e excitar-me ao crescimento
Adormeço,
Entre as memórias
De um inesquecível dia
Com o livro aberto
Em parte incerta
Por entre lençóis
Não pretendo ser perfeito
Mas reparar as anomalias
Dos dias cizentos
Em que tropecei e me feri
Magoei e cobardemente fugi
Em que me esqueci de mim
Ao incomodo do confronto
No comodismo da conveniência
Na pobreza da satisfação
Em profunda carência
Mergulhado na espera da coragem
Envolto na Sombra
De quem apontando o dedo acusa
Com a máscara da expressão inventada
Com o intuito de quem deseja de mim receber
O que julga não ter
E pensa não possuir
mas ilusoriamente sabe fingir
Quero viver num conflito
que me faça crescer
que me desenhe o caminho
que me transforme em amor
Preencha de esperança
e eu vença os medos e a dor
Que me mostre a luz do dia
Liberte da loucura das trevas
mesmo que seja na hora,
de eternamente e em paz
feliz adormecer
O que não vale é nunca
Há o poeta que se descreve na poesia
E há quem mesmo que nada escreva
Seja o mais belo poema




(poema dedicado a Dolores Jardim, pelo seu empenho e pela sua dedicação, na divulgação dos poetas.)
Todos falam de Amor
Como se houvesse alguém
Que soubesse verdadeiramente o que é amar
Amor é muito mais do que este (a)mar
E a rochosa praia onde tudo (re)começa
(Só a mim dedico este poema)
Constam-me ainda tantas partículas
Das estrelas que fui,
Que todos os dias, me inspiro no Sol
E teimo em brilhar.
E há horas em que consigo,
Mas sem que queira
Ou dê por isso.
Quando me esforço, apago-me.
Tenho de me esquecer de tudo,
Completamente de tudo;
Do passado,
Do futuro,
Esvaziar de tempo,
E vencer as fronteiras de mim,
Para que a luz me rasgue a mente
E eu até consiga sentir o Universo
Como estrelas,
Todas as que eu fui.
Sobe à montanha mais alta
E imagina uma Lua fria
Que se amorna conjunta ao primo Sol 
Deste nosso inverno
Acata o que te virão dizer os ventos
Também eles atendem às ordens de Logos
Não desças ao vale que se encharca de abjeto nevoeiro
Apenas arremessa-lhe o que te sobeja e já pesa
E ambiciona subir à próxima nuvem que passe
E deixa-te dignamente levar ao grande propósito
Que te será revelado durante iniciática viagem
Opera-te só
Para que a insensibilidade alheia não te fira




(28/9 Dezembro, a última Lua-Nova de 2016, em Capricórnio, com Mercúrio conjunto, retrógado e...)
A sua poesia tem
Alma feminina,
Corpo mundo,
O ritmo das ruas apinhadas de esperança,
Rios nascidos de um templo sagrado,
A respiração ofegante dos sentimentos,
O amor que muitos anseiam,
O aroma de uma nova era,
E um céu bordado de estrelas...
E é demasiado iluminada,
Para ser mortal
Por ser um dom
De tão bendita Alma-Poeta.

Guardo-a religiosamente,
Na minha essência
E declamo-a como mantra,
Para que nunca me perca.



(poema dedicado à grande poeta, actriz, publicitária... brasileira Carmen Regina Dias)
É sobre o céu de outros
Que trabalho o meu.
E faço das palavras
A poesia de cada um,
E também uma de meus melhores,
De muitos, rios,
De mim nascidos,
Que em mim desaguam;
A da procura,
Ao oceano do sem fim.
O meu relógio
Tem pelo menos,
Dez ponteiros;
Para que assim entenda
O tempo
E a vida...
O meu relógio
Pulsa
Como um grande coração.
Cedo interiorizei os sons bronze,
Que ecoavam a cada hora,
De um templo de Deus e de santos,
Em terras cobertas pelo ouro do trigo,
Pertença antiga de guerreiros monges,
Que se cruzavam nos caminhos de Sant`Iago.
Sinos, gargantas de majestosas e altas torres,
Lembrando o tempo e a conversão aos actos de fé,
Ao invisível e omnipresente Espírito Santo,
De onde se avistavam faluas e fragatas
Desaguando o braço do Tejo,
Com lemes versáteis de vontades.
Continuam as badaladas a marcar o ritmo
Das vidas num monte-rijo
Perdido de memórias
E nas esperanças de uma galega.
E eu na praça,
Procurando o entendimento
Do intervalo entre o primeiro dia e hoje.
Somente este velho monumento evoluiu,
Conservando a luminosidade rica do corpo inicial.
Esta união, de facto,
Que se desfaz,
Com estrelas sem céu,
De mãos não dadas,
Laços e tratados mal apertados,
Parentesco sem raízes,
Intuitos sem fé,
Ideologias desconcertadas...
Espera a derrocada,
Que seja pretexto
À liberdade suprema,
Como península,
Que se quebre
Em ilha
E navegue aos mares do possível
E de futuro.
Consagra-me o destino:
Um irmão de sangue,
Que nossas casas sejam geminadas
Até à alma,
Que outros virão
Unidos pela palavra
E ao coração de todas as histórias...
Persiste uma flor,
Ao efeito de quaisquer ventos,
Enlaçada ao bordão da esperança;
Quer ser romã
E árvores.
E eu,
Por vontade de todos,
Também serei.
Cansada, a Liberdade,
De tanto nos querer guiar,
Deixa de ostentar barrete frígio,
E somem-se-lhe as cores de suas vestes
E desistem os ventos de lhes dar vida,
E cobre os seios com seus cabelos,
E debruça-se de tristeza,
Humildemente meditando,
Por nos sentir sem esperança,
E longe,
Adormecidos,
Possuídos por banalidades,
Até capazes de cobardia,
Resignados…
Mas, antes que se faça no céu,
Primavera,
Soará das ondas deste mar país,
A revolta dos acordes,
Para que se arquitecte outro fado,
E sejam depois de tudo,
E por fim, jardim
E poesia,
E esta (ou outra) Liberdade,
Na força de todo e qualquer Verão,
(re)vestida de coragem
Com as cores de todos nós,
Em tons quentes, renascidos,
E Portugal.
E a Liberdade,
Enfim, aniquilará o medo,
Para que emirja o entendimento
Do caminho.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Muitos céus
Uma só Terra
Muita vida
Poucos reinos
Muitos homens
Um único Povo
Muitas culturas
Um só Rei
E ainda muitos enigmas
Para o tempo
A morte
E o fim
E a Acácia do primus Jardim ainda está florescida
O meu país
Está doente
Desfalecido
Moribundo
Decadente
Sofre
De um social ismo
Qualquer
Raro
Mutante
Mortal
No meu país
Ainda se crê
(Re)criar o fado
(Re)viver os sonhos
Dos heróis
E dos poetas
Que tão bem
Nos (re)inventaram
e nos (re)conduziram
À (r)evolução
É preciso
(Re)descobrir
O Espírito
(Re)fundá-lo
(Re)povoá-lo
Ser
Em português
Ai, Portug(ra)al
Minha fratria
Ainda vos esperam
A glória
O mundo
E eu
Olha-os lá de cima
Onde habitas
Transitoriamente
Na tua evolução
Não percas tempo
No degrau
Por ti já pisado
No longínquo passado
Eleva-te com firmeza
No lance seguinte
Apoia-te no corrimão
Alcança o patamar
E abre essas portas
De provações trancadas
Que mania
De descer e subir
Escadas
Tudo está em mim
E assim sou reflexo do céu
E o espelho deve estar em consonância com a imagem
E por cada suspiro que dou
Há uma estrela que aumenta a intensidade de seu brilho.
E mesmo que queira
Nem sempre há brilho suficiente numa qualquer estrela
Que me leve a ter uma respiração anelante
E nem sempre nos meus suspiros
Há verdade capaz de provocar movimento
Seja ao que for
E continuo observando o céu em mim
E o firmamento onde me perco
À espera de qualquer entendimento
Que justifique este sincronismo
Para além desta realidade
Construí durante uma eternidade
Uma grande casa
Sobre os alicerces de uma outra
Que se perdeu de existência
De segurança
Onde nasci
E acabou também esta
Inesperadamente por ruir
Depois construí outra
Dentro de mim
E senti angustia de solidão
Por não ter o hábito
De estar a sós comigo
E por ter de suportar tudo
Com responsabilidade
Definitivamente resolvi sair
Da minha aldeia
E habitar-me sempre livre
Para onde fosse.
Percebi que por muito que vivesse
Não conseguiria percorrer
Todos os lugares da Terra
Mas que isso não seria nem importante
Nem motivo de receio e de frustração
E nem alteraria por alguma vez o percurso
A que me propus inicialmente a cumprir.
Conhecendo bem a minha casa
E o que sou
Bastar-me-á
Para me sentir o mundo
Um dia voltarei à minha aldeia
Se tiver tempo
Para lá morrer
Quando pouco
Ainda conhecia
Julgava saber tudo
Agora que tanto
Já aprendi
nada sei
Ainda, ontem
Era criança
Mas de muito
Me esqueci
Ou não me quero
Lembrar
A consciência
A que me obrigo
Faz-me doer
E crescer
Criar é uma forma de amar
De dar e ser possuído
É a explosão que vem do nada
A divisão infinita das ideias
Na multiplicidade de todos os sentidos
É a fantasia da alma sofrida
Marcada pela realidade da carne
É o entendimento do espaço no tempo
Na sensibilidade compactada de vontade sem limite
É a força espontânea
Da incontrolada angústia de viver
É a transparência da semelhança
Que nos sobrepõe
É o envelhecimento do espelho
Quando mais nada resta de nós
E Deus
Criou o homem à sua imagem
Para que ele criasse a sua própria vida
Sempre à Sombra
E o seu imenso pesar
Poderia também ter
Sossego
E fugir
Mas não tenho tempo
Não posso parar
E ficar por aqui
Como se merecesse
A Luz
Trabalha-se
Para que se aviste
Não há iluminados
Há os que iluminam
Nada a Deus peço
Seria um blasfemo se me atrevesse
O que tenho por ora sobra-me
Injusto seria se Ele me desse mais do que necessito
Ou alimentasse caprichos sem nexo
Quando há quem pouco ou nada possua
Para que sobreviva
O que desejo
Tento que se concretize sem prodígios
Mas com as ferramentas e armas de mim
Dignamente
Para que creia na minha existência
E Nele
Soletra-me por entre os teus lábios
E pressente-me aqui nestes versos que te escrevi
Quando te adivinhava à minha procura
Mesmo não te vendo o rosto
Sentia-me já no pulsar de teu coração
Como se vibrássemos ao ritmo do universo
E nos sentíssemos tão perto um do outro
E tudo fosse tão grandioso e belo.
E por cada palavra que declames aí bem dentro de ti
É como se me inventasses como tu
E te sentisses eu
E surgisse a dúvida de quem escreve ou lê e ouve
E eu me perdesse em ti
Por entre tantos pensamentos
E tu te achasses em mim
Por o que desejei e tudo o que te dediquei
E eu e tu fossemos todos os outros que se escrevem ou falam
E desejam o amor mesmo sem que o saibam descrever
Ou ler verbalizar
E continua a ler-me
Não páres
Continua por amor e pela poesia
Mesmo que tudo não passe de mais um capricho.
Uma coisa é querer
E não conseguir
Outra é negar a oportunidade
Sem a experimentar
Teimo em não me alterar
No que acredito
Domino
Ambiciono
Mesmo que (n)isso seja medíocre
E tanto há em mim
Mas para me desbravar
Em muito devo primeiro perder-me
E sofrer
Para depois me salvar
E ser mais Eu
No meio de um qualquer oceano
Espero-me amanhã
No porto naquele de que nunca se fala
Para logo de seguida partir
Sem sossegar
Enquanto houver ventos
E marés não se amainam velas
Já não me circunda o muro
Da cidade onde livre
Deveria ser
Hoje sou um politikós
Escravo
Somos os que somos
Mas só poucos são
E os que são
Pouco sabem haver
E morremos
Vandalizados
A pólis esvai-se
A frustração é a glória dos fracos
Quando nada fazendo para demudar
Persistem no erro de trutinar 
Quem é
Fazendo
O que jamais abisparam
E na sabedoria dos dias
Em silêncio caminha
Quem não se apraz
De ser quem foi
E poderá vir a ser
Por tudo o que é
E tão simplesmente conquista
Para que tudo seja
O melhor que queiramos
Todos com todos
Ser
Não é vitorioso
Quem amargamente cobiça
Mas aquele que se trabalha no amor
Por Amor
Na minha Terra
Não se nega a riqueza
Indigna é a pobreza

Na minha Terra
Há riqueza
A distribuir
Justamente
Na minha Terra
Também há muito pobre
De barriga cheia
Aprendo
No contraste
Cresço
Nos diálogos
Mestre
Nos erros
Que detecto
No querer
Que corrijo
Vagueio
Errante
À nossa procura
E todos os dias
Encontro-me
Desdenhado
No caminho
Que me leva a ti
Caminho,
Pelo dois
Sentido
Olho para a noite
E apaixono-me
Sob o encanto
Pálido da Lua
Adoeço em delírio
De imaginação
Vibrando em mim
Um forte desejo de amar
No cio da minha ansiedade
Procuro o simples prazer
Na pureza de um corpo
Com os vícios do espírito
Estrelas perdem-se na noite
Planetas bailam na noite
Misturam-se de nuvens
Para cobrir sua nudez
E na grandeza do espaço
Apaga-se a noite
Para que se incendeie o dia
A verdade não faz sentido
E não há sentido para a verdade
E o Já
Já foi
O grito do momento ecoa dentro da alma
De onde veio
E há tanto para dizer
Sem que haja palavras para tanto sentir
E nunca se entende a Voz que em nós escutamos
Não há ouvidos para todos os sons
Nem compreensão que decifre todos os dialectos
Mas haverá sempre uma Voz
Para que não nos percamos
Mesmo que surdos nos achemos
E o relógio não pára
Tenha ou não ponteiros
Corda para dar
Ou pilha
Seja ou não relógio
E o tempo voa
Sem ter asas
E nós queremos saber o tempo
Como se houvesse tempo para saber
Queremos saber tanto
Que nos perdemos no saber
Sem escutar a Voz
Pisamos e repisamos
Damos mil e uma voltas antes de assentar
E nunca temos o sossego que nos sossegue
São dias
São noites
Mas não há dias nem noites
Que nasçam
Ou se ponham dentro de nós
Há um vazio imenso
Por preencher
E uma Voz
Uma Voz
O tempo contamos
Porque nos disseram que era para ser contado
A verdade quer-se verdade
Porque é mentira
E mentir é feio
E o feio é feio
Porque há o que é bonito
E ainda o mais bonito
E eu sou o mais belo
Porque tenho medo de ser feio
E que os espelhos me persigam
A comparação é a traiçoeira amiga da verdade
Nega a verdade de ser verdade
Sem a importância de se ser verdadeiro
Tanta razão para o que nunca será razão
Porque não há razão para a razão
A razão serve a dúvida
E a dúvida alimenta a razão
E porque haverá tanta dúvida para toda esta não razão
Haverá certamente uma razão
O tempo é este constante pensar
Que não desliga
Não há relógios para este pensamento
E o Já é ainda mais breve
Quando as palavras se cruzam à razão da luz
Nas profundezas da escuridão de nós
E acabamos sempre por ter dificuldade
Em regenerar o sentido para a Voz
Passei por mim
E olhei sem que me visse
E esperei pelo momento
Que sabia já ter acontecido
Como se me quisesse esquecer para sempre
E ou sustentá-lo pela última vez
Volto amiudadas vezes
Como se fosse possível suspender tudo antes de me ver
E conseguisse mudar o enredo nesse lugar
E com aquela gente
No preciso tempo do mais marcado silêncio
Sempre me foi rogado sem que houvesse palavras exatas
Ou vozes bem-ditas
Que nunca interrompesse antes de parar
E somente estivesse atento ao que decorria
Sem que interferisse
Mas todo o engano me seria profícuo
Nunca me confiasse aos deuses nascidos do Homem
Porque haveria de ser um dia mais tarde Ele
E Nele também eu o deus
Erguesse pela imoralidade da moral
E jamais fugisse de nada apenas por mim
Confiasse sim nos instintos
E na sua prima e refectiva energia
Lhes desse as virtudes que me satisfizessem
E alegrasse assim toda a Natureza
Porque Dela e de mim
Tudo viria a ser o bem possível
E um muro alto foi realizado
Por cada dia que me levantava
E uma grande fogueira fora acesa
Para que me entretece a olhar as labaredas
E pouco pensasse sobre depois
E o que também sucedera antes do depois
E do que não conseguia recordar
Mas em mim sentia
Sem que entendesse o que sentia
Esquecesse de mim no outro lado
Voltado para a cegueira
Entre o escuro
E o que levaria à(s) Sombra(s)
Entre o imperecível aprisionamento que gera a ignorância
E a imperícia de me ver livre e são
Entre o desejo de sair da caverna do obscurecimento perpétuo
E a trepidez de ter de volver por não conseguir jamais abeiçar luzência
Não há triste sorte para quem se sente no que é
E mais quer ser por si apenas desejar
E em si crer
E porque ainda somos o que outros foram
E outros que hoje também persistem em ser
Mais seremos pelo que (nos) fizermos
Na mais concludente harmonia de solidão
O Eus maior do que vive
E certamente virá o tempo em que será
Ancoro-me aos teus desejos
Defendido de naufrágio
Sem leme aos sonhos
Nem velas de coragem
Puxado à força de preia-mar
Nascem-me asas no dorso
Ao fogo de em ti livremente ter poiso
E ser-te igual em confiança
Na serena brisa de qualquer entardecer
Ungido pela doçura dos néctares
Perfumado pelas fragrâncias
Das primaveras prometidas
Debruço-me no regaço do teu sorriso
E leio-te nos gestos poemas
Em chamas de rimas
De amor em flor
De vida a transbordar as margens
Aos rios da tua voluptuosidade
Exploro os mistérios sagrados do universo
No terno e eterno brilho
Do teu complacente olhar
Que sejam teus braços
Um xaile sem penas
Para me reconfortar
E proteger dos medos
E que do teu corpo
Se abra a porta do meu fortalecido ser
Até crescer manhã
Sem que nunca se faça tarde
E possa eu
Marinheiro
Fazer-me de novo ao mar
Lua de Neve
Brilhando
Na escuridão
Em um olhar
Que de tão só
Se obriga a iluminar
Uma multidão
(Eclipse Lunar | Fev.2017 | Eixo – Leão/Aquário)
Dia de chuva
Alma triste e molhada
São rios de rua
Cúpula de mágoa rasgada
O Sol trocou-se de nuvem
Tão cedo entardeceu
São cheias de ninguém
Enxurradas do eu
Trovoadas de espanto
Vendavais por meu degredo
Na tempestade deste meu canto
Soam os trovões do medo
Sonhos ansiosos por bonança
Em arrepios de solidão
Afogueiam-se de esperança
Lareiras de multidão
De arco-íris se alterou
O confuso azul do céu
A vida depressa enxugou
E o meu dilúvio morreu
Nem sempre luto
Com o que se me apresenta
Mas com o que julgo desconhecer
E que desde sempre me habita
Mesmo muito antes de mim agora
É um guerrear dissemelhante
Que deveria não mais enaltecer
Para que me não falte pujança
E constantemente me vença
Mas há tanto que me aparta
E inibe à lucidez que apazigúe
Preciso de água
Que um rio me banhe a alma
E de mim expurgue
Esta terra rochosa
Resistente à erosão da esperança
Tudo depende de como se lê
E sente o que se vê
Nem sempre está nas minhas mãos
O poder para mudar a tristeza
Que o mundo pesa
Serei capaz
Quero ser capaz
De aceitar todo(s) o(s) Eu(s)
Que comigo constantemente se cruza(m)
Me afronta(m) e desafia(m) ao amanhã
Até que outro que me espera
No fim dos fins
De que nunca me lembro
Mas experimento-o sempre presente
Ao desenho desta história
E deste ser de todos
Apenas Um
Filha és de Clarice
E Quintana
E trajas-te de diva Florianopolis
E nas veias corre-te o sangue das cores de Fossari
E a dramaturgia de Nelson tem também morada em tua alma
E contracenas com as mais belas canções de Vinícios
Como se em palco igualmente pudesses ser a Bossa-Nova
E as palavras que te povoam
Saem-te como pássaros de oiro com asas de céu
Para que se cumpram nas rotas do Atlântico
E sejam pedras da grande fratria lusófona
E a face Humana do êxtase, esculpidas pela tua poesia


(poema dedicado à grande poeta, professora de teatro, encenadora, actriz... brasileira Carmen Fossari)
Podes saber deveras
Mas nunca preverás que chegue
Enquanto bravateares 
E nada conceberes ouvir
Porque essa avidez jamais assentirá
Do que ainda há para ser dilucidado
Não possibilites às frustrações
Que te cerrem e obstruam a lucidez para com os vivos
E não digas dos outros
O que imperfeitamente de ti resulta
É obsceno como olhas para o teu inimigo
(o infesto habita adicto em ti)
E cobiças a coroa que supuseste nele
A que se ajustaria com esmero no cimo de teu poderio
Ainda crês na tua proficiência
Quando sempre maior foi a pretensão
Do que assistir
Insciente de te deixares temonar
Por aquele que mereceu e lidera o mar
Há por aí maliciosas vozes
Maliciosas
Palavras maliciosas
Maliciosamente cuspidas
No âmago de quem acoitou
Em que a discórdia não age de testa à vontade
Fazem timbrar-se nos escombros obscuros
Da cegueira dos puros
É claro
Está iminente minar as certezas construídas
Engendrar o apavoramento
Cursar maledicência
Exclamar vãos prometimentos
Vozes de quem nada inda demonstrou
E no desnorteio do que se possa forjar para engodar
Para que se venha a auferir o assento e a urbe
E o domínio
E imperar
Com demais sobrantes
Os desempregados deste maquiavelismo pacóvio
Como se fosse a intelecção à verdade vencesse
E os que chefiam não fossem homens cônscios e de querer
Há por aí maliciosas vozes
Maliciosas
Palavras maliciosas
Maliciosamente
Ambiciosas
No caos de uma maré vasta
Se afundam sonhos de tantos
E na loucura da corrente
Se quebram portos de iludida seguridade
E há ventos que cruzam a dor para salvar
Na força da liderança inequívoca
Sóis de palavras impelem ao renascimento do Verbo
Que se diluiu na esperança de quem idolatrou
Horas de espanto pela incerteza do tempo que de muitos se fez espera
Sem que o sossego habitasse na procura
Se apagam no infinitesimal da eterna noite
E no fim de cada escada se abre portas de ruas
E nas falésias de cada olhar há praias de descobrir
Nuvens por abraçar
Almas de pássaros para que se destinem asas aos voos da equidade
Sorrisos no canto florescendo em êxtase como borboletas tocando a flor
De vozes que vibram da mais ínfima estrela brilhando
Do universo de cada ser
E um rio nasce nas profundezas dos alicerces
E cinge o céu
Alimento de sentidos caminhos
Colore as margens até à razão
Reflexo de rostos proibidos
Memórias exasperadas
Caindo na foz presente
De todo o sempre
O caminho manifesta-se nas veias de quem corre
E um coração se agita alquimicamente no desejo de se completar
E o amor é a mais valedoura virtude por definir
E o saber escolhe quem ensinar
E a morte é o fim mais singelo
No caos de uma maré vasta
Há sempre um chão a plantar
Um Eu viçoso a contemplar
A manhã da diferença por assumir
A crueldade humana assusta-me
Temo o que haja em mim
Que desconheça
E esteja no genes
A ancestralidade é um mistério abismal
Submergida Sombra que oculta
O que quer assomar
Zelo-me em lucidez que saiba
Mesmo que haja o momento mais impessoal
Que me queira transmutar
E fazer de mim o mais repugnante dos animais
Libera me ab omni malo
Sinto-me retalho de gente
Objecto desvalorizado
Chuva e mais o que vente
Tecto sem telhado
Palavra não dita
Forno que não esquenta
Voz que não grita
Boato que se inventa
Gota no charco
Árvore já morta
Violino sem arco
Quinta sem horta
Pele mal amada
Espectáculo sem artista
Qualidade não controlada
Palhaço malabarista
Tv a preto e branco
Relógio sem ponteiros
Pirata manco
Tiros não certeiros
Corno manso
Intriga mal parida
Mudo ganso
Sapato de alma partida
Candelabro sem velas
Dia pela noite apagado
Ombreiras sem janelas
Nevoeiro cerrado
Bosta de besta
Cão rafeiro
Verga enlaçada em cesta
Pantomineiro
Mosca sem asas
Copo sem bebida
Rua sem casas
Beco sem saída
Afadigado de sentir
Por tanto me vestir
E despir
É no inconsciente
Que está o teu futuro
Mergulha nas profundezas de ti
Colhe de vez
Os fragmentos do chão
Das primeiras emoções
E livra-te do peso
De memórias milenares
Resolve-te na transexualidade da psique
Assume-te nas tuas projecções
E estabelece a ponte certa
Ao complexo de tua persona
Para que chegues
Ainda a tempo
De completar
O teu verdadeiro Eu
E ser a felicidade do Todo
Assim, o mundo te espera
Vê-o com o olhar crente do agora
Despreocupadamente
Sou hyacinthus
Esquecido de tudo
Sem tempo
Perdido
Num descampado
Sem jardim
Fecundo de verde
Sob a protecção
De uma sábia
E espinhosa acácia
Uma borboleta vinda do céu
Mesclada em tons de amor
Encantou-se por mim
Morro de saudade
Depois de em cacho florir
E renasço de esperança
Na espera do doce beijo
Ao feliz encontro
Com o meu existir
Já não temerei Zéphyro
É por entre estas paredes
Onde escrevo o que me digo
Que habito nas horas mortas
E me refugio em silêncio
Das exigentes rotinas de vencedores
Das expectativas a viris respostas
Do confronto em esforço com a dúvida
Da carência de quem mal se conhece
Fecho-me neste berço de poesia,
Onde atentamente tudo em mim observo
Rendido ao incentivo da procura
Na solidão que me conforta ao (re)encontro
Do que fui desde sempre
E não me lembro
Até onde por fim me completarei
Mesmo que esteja longe desse entendimento

Em misterioso labirinto
Estimulado pelo desejo de liberdade
A vencer-me no preconceito
A lutar contra todos os medos do medo
E a provocar a escrita ao movimento
E a protegê-la de maus olhares
Para que em brincadeiras de palavras
Me construa à vontade nos degraus
Do que me eleva
E provoca emoções
E me dá sentido
E haja quem me queira
Tão somente
Pelas palavras
E se sirva de minhas palavras
Se delas souberem mais de si
E de como brincar
Assim comigo
Para que se seja poesia
Para além de qualquer palavra
E mais do que poeta
A minha religião é a Poesia
E sigo extático
Os que tecem o pensamento
Com a pulcritude mística da palavra
E rezo a filosofia da alma
Em cada linha de um poema
Com asseveração
No delubro do grande Verbo
Que mais sou hoje
Se ainda conto as horas de sempre
Sem que se me assombre
Qualquer sentido de todos
Apertado o vento fora pela esquina do pudor
Que pretendido se inventara da fraqueza do que não se venceu no medo
E malogrado o ninho se achara desfigurado e perdido ao poder
E se fez a imagem à mentira
E a eternidade à escuridão
E a ambição voou até às mais altas montanhas urdidas
Pelo pensante pequeno que se acreditara na inteligência
E reis se elevaram aos tronos das inverdades
E a uma só Sombra povos se subjugaram
E indignos se fizeram pelo atrevimento de se assumirem no sonho
Que era a exactidão não inteligível pela nuvem
Do que não se pretendia e assim deveria ser aniquilado
E ainda em chamas tudo o que ardera
Se fizera purgatório de dias a fio
Sem margem à obliquidade dos desafios do ser
E todos morremos antes de termos sido iniciados
E mortos persistimos sem voz ao cântico da plenitude
E na loucura do ego vence a infelicidade da perfeição
E obscuridades continuam a habitar os alicerces da alma
E sós olhamos para as horas do que é tarde
E perdidos navegamos no mar da esperança despojado de ondas e de colore
E somente sentimos o que nos avista sem horizontes de lucidez
E outros continuamos sendo sem que o despertar ecoe nas veias da vontade
Quereis continuar como percevejos presos nas malhas de uma obsoleta e condenada teia
Sem que sabeis o que vos traz o dia e a glória da primavera de todas as espirais
Que trazeis no conhecimento maior de toda a natureza que em vós flui desde sempre
Sem que vos limpeis da ebriedade de estórias que alucinam e devastam a história
Sejais não mais mas o que apenas sois e o mundo se tornará boamente iluminado
Como seriamos imensos
Se obedecêssemos ao que nos dita o Universo
Porque o assediamos com frequência 
Tivéssemos sentir e entendimento para erguer o leve véu que nos quebra luz
E nos víssemos o bastante para atingir
Como nos empederniu as estratégias por amparo ao longo de tantas ventosidades
Sem que antes a erosão provocasse vizindade à dimensão da liberdade dos deuses que sonhamos
E os rios asseassem as margens da alma em vez de delimitar a corrente que se esboça nas emoções
E contrai ao desaguamento do que parece ser infinito
A presa fácil
A que sempre atou o constrangimento ao depois
A verdade mor da nossa existência
E como transladá-la aos dias de descalço facto
Que é cerca que fugimos
E soubéssemos seguir o que profundamente cristalino alvorece aos sentidos
E busca o contentamento profundo pela matéria harmonizada pelo desejo
Na concordância desocupada de eras
Com o que de intenso nos dá a arte de sermos visceralmente humanos
E sábios ao poder das durações
Para que cheguemos a ser o Amor que descobrimos existir
Cerrássemos os olhos para atentarmos as cores das palavras que iluminam os céus que se espalham em nós
No mundo sublime que poderemos sempre alcançar
E na humildade de sermos desmedidos
Abraçássemos a união do perfeito
Sem intenção de julgar ou (re)criar suspeita ao que nunca será
Se a fusão in pântano se realizar na alma da ancestralidade que guia
E prosseguirei a espera no cume da buena-dicha
Ainda desconhecendo o fogo a que tanto demora
Fostes
O princípio
Príncipe
O primeiro
O melhor
Guerreiro
Filho indigno
(por parte de mãe),
Por mui nobre causa
Pátrio
Ares da nossa coragem
Bravura e glória
Deste lusitano fado
Fidedigno conquistador
Cavaleiro
Nosso amo
Senhor
Rei da criação
Santo
(canonizado pelo povo)
E fostes lírio
Nascido aos pés
De immemorabile acácia
A mesma que coroou
De espinhos
Outro rei
Os poetas
Os inconformados
E os que ainda crêem
Evocam-vos
Para que encarneis
Urgentemente
Portugal
O rei tornou-se
Sucessivamente grande
E logo brilhou
Quando se escondeu
Saiu da longa noite
Onde perecia visível
No inferno do indefinível
E na infinitude dos sentidos.
E a nona seta
Apontava perfeita no arco
Para as estrelas deste fado
Preso de limites
Cantado por vozes
Que não se cansam
Em transcender o canto
E ascenderam nos corações
De esperança outros ventos
E fez-se breve
A primeira estação
Por ser ainda tempo
De má colheita
O rei brilhou
E o justo nasceu
Herdando uma cadeira
Já morta
E outras flores
Por fim
Animaram o futuro
Mas o lírio
Nunca (re)nasceu.
27091968
3843N
0908W
A poesia eleva
Os mais profundos sentimentos
Da alma
À consciência dos dias
Feitos de versos
Tecidos com fios de luz
A poesia
É dos poetas
Que de tão vivos
Sabem eternizar o canto
E a pulcritude
De todas as palavras
De todos os Eus
A poesia
Não tem razão
Tem sabedoria
Se eu voasse
ao céu de toda a fantasia,
somente aves e aviões
eu teria para colmatar minha solidão,
como companhia.

Veste tuas asas de coragem
e vem planar no topo de toda a aventura,
Para que no tempo que reste
Haja ainda o que se perdeu e é
E se descubra o ninho da intensa Primavera
Se eu voasse
Devolver-te-ia todo o azul
Onde desenhássemos acima do horizonte
O arco de toda a aliança
E se me perdesse de ti
Poisaria na nuvem mais cinzenta
Até que as águas
Devolvessem meu corpo à terra
E eu permanecesse livre
De todas as penas
À tua espera
Quatro árvores
Durante cerca de duas décadas
Conseguiram criar raízes no meu coração 
Fazendo sombra à minha Sombra
E dando-me por entre os verdes de todas as horas
A lúcidez do inatingível
É sempre uma ventura ter vida que nos ampare o caminho
Com a discrição que distingue a sapiência de uma eternidade
Receptáculos de todos os universos
Na minha passagem mais secreta
E tão simplesmente árvores
Ao primeiro olhar
Depois de Nicéia
E do Édipo de Tolerânica
(Pela Revolução da Cruz)
Tornou-se lentamente poderoso
Temporal o império
Que dificilmente de outro modo resistiria
Alastrou-se mais tarde por novas terras
E impôs-se a todas as almas
Como único representante da verdade (e) do Divino.
E continua Roma
A ser a capital da civilização do medo
E desassossego da fé
Os bastidores do poder
E da fortuna
De um império de coração vazio
Sou pedaço de vida
Deitado na Sombra
De uma multidão
Sou força vencida
Mergulhada e perdida
Em desilusão
Sou dor viciada
Em choro e pranto
Sem poder fugir
Sou no sofrimento
O espelho do tempo
Sem nunca o medir
Sou um rosto secreto
E incompreendido
Na palavra sim
Sou um resto de gente
Vergado ao silêncio
Não se riam de mim
Sou povo enjeitado
Em nudez de encanto
Carrego minha cruz
Sou um fado pesado
Compasso trinado
Um canto sem Luz
Se digo o que sinto
Se minto no que sou
Não o faço por querer
Não me disfarço
Nem me escondo
No falso sentido
Do que acabo por ser
Se me dou e desfaço
Se luto esquecido
Vivo insatisfeito
Sou no cinzento tristeza
Verbo conjugado
Pretérito imperfeito
Sou um rio parado
Sem margens sem leito
Sem fundo sem foz
Uma barca sem remos
Sem redes sem leme
Sem velas sem nós
Sou tarde poema
De versos sem rima
Lenta de se pôr
Por entre o nevoeiro
O que desaparece
E se apaga de cor
Sou um resto de gente
O que falta do início
Um caminho para o fim
Vergado ao silêncio
Vergado ao silêncio
Não se riam de mim
Se me libertasse de tudo o que houvera existido,
já não existia,
mesmo que seja escasso,
sou sempre mais do que queria.
Não por planejar
mas por encargo,
sem que haja sossego à mote da essência,
para que no sem tempo do agora
conquiste um tempo que me invente
e o sinta perdurável ao que não me é percetível nos ritmos de todos os relógios
e similares incumbências, efectuações, tabeladas à idade...

Invenções de mentes esplendentes, geniais,
que exercitaram o poder e ensejaram a submissão e escolheram os conhecimentos que anulassem a individualidade e os pensadores.
Como se eu fosse contável por horas ou dias ou anos
e não me distanciasse para me esquecer do lado mais perverso do amor humano.
Não sei a minha idade.
É ao bater do coração que sinto as badaladas dos meus instintos, desejos, afectos, das recordações...
Às vezes pergunto-me por ti,
e não me oiço,
e não respondes.
Vejo-te não de longe,
mas numa vida ao lado.
Conhecemo-nos.
Não falámos o suficiente, para que fosse suficiente.
Mas foi suficiente por o que nunca dissemos.
Um encontro de olhares reveladores,
nem que tenham sido aparentemente simples olhares, aos olhares simples dos outros,
mas que persiste no bater dos corações a cumplicidade do uníssono.
Há quem no silêncio
Seja capaz mais de entender os que os sons nunca despertam.
O óbvio para mim é a antítese
Do tanto que tenho para dar
A quem ainda nunca me soube
Mas que sente a tentação de me escolher
Há rios que terão de galgar as margens
Há ventos que irão erodir a obediência do mestre preso ao mesquinho receio de errar perante os seus discípulos
Se me libertasse de tudo o que houvera existido
Já não existia
O sonho sempre existiu
Nunca o quis matar para que eu não morresse
Dele nunca me poderei libertar
(Para bem de todos os que tendem a mergulhar no pântano do indecifrável)
Há que vivê-lo nem que seja no êxtase em simbiose com todas os prodígios que motivam sentir.
E sinto o arbítrio de me quer fazer voar sobre o céu de ti
Difícil é ter temperamento de tempestade
Parecendo o paraíso
Que mais consistente e lógico nos motiva
Senão os sonhos que têm sempre de nos haver
E que levem a acreditar no grande Sonho
Mesmo que nunca se concretize
Mas, não nos falte esta magia
Dos sonhos
Sonhos
Do sonho
Neste mundo nesta vida
Tanta gente abandonada
Gente que sem ser amada
Tem sempre a seu lado a dor
Sofrendo como uma flor
Que num deserto sem nada
Nem tem para ser regada
Uma simples gota de água
Traz consigo a grande mágoa
Mágoa deixada p`la vida
Mundo da guerra e da fome
Gente que vive a sofrer
Que nasceu para morrer
Trabalhando até mais não
E dando sempre a sua mão
A quem possa 'inda valer
Bons amigos possa ter
Neste mundo onde há o mal
Mas que mundo tão infernal
Cheio de tanta guerra e fome
(1972)
As coisas que faço
Nunca foram por ti
Como me convenço
E aparento
Esta altruística máscara
Esconde quase sempre
A face do meu egoísmo
Aceitando-me em tudo
E ter nada
E tudo
Nada mais resta
Para se ser animal
E deus
Poder receber
E dar também
Há uma Lua em nós
Que outrora nascera
E era dia
Mergulhada num pântano
Cerrado de medos e (des)ilusões
E nela se espelha
Abaixo do horizonte
Já posto
O Tempo enraizado
Firme na convicção
De que perdurará aquele momento
A Lua quase apagada
De tanto morrer
É surpreendida com o tempo do Tempo
Que se desprendeu da terra do ouro
Para lhe tocar com uma noite quente
E um último beijo
E fundem-se na inquietude
Para que se salvem almas
E um novo Tempo descenda
Tudo tem um termo
Para que haja a sorte
Do Sol de todos

Talvez neste próximo ano Te devas confrontar com o que não expurgaste De estranho ou impuro de silencioso ou de mistérios E tudo se acum...