terça-feira, 29 de agosto de 2017

Nem tudo o que me aconteceu
no berço,
balança na minha inquietude.
Já nasci (pre)disposto
a alguns movimentos
e a certas pessoas
e sou infinitamente aparentado.

Não sei
Porque não tenho quaisquer lembranças
do início,
nem mesmo de quando vim aqui, assim.
O que sempre muito me marcou
nunca foi fácil esquecer,
nem (me) perdoar.
O pormenor encadeia
e inibe a liberdade de coragem
e não há verdade,
que explique a totalidade.
E o fim
nunca se completará.
Tudo (de)corre
nas profundezas
de mim,
um palco
onde represento.
Tudo o resto
é mera ficção.

Em esforço,
materializo
e constantemente
me tento
e me repito
e erro,
existo.
E construo-me
a todo o momento,
em caminho,
ao Eu que tão sabiamente
me espera.
A inteligência reina 
em todas as selvas,
A justa predadora.
Reclama-a
como exclusiva,
a ignorância.
Não se herda a pobreza,
cresce-se de cegueira,
sofre-se submisso à culpa,
respeita-se em contrariedade
a arrogância do preconceito,
sonha-se a dormir,
corre-se de pé,
luta-se com medo,
estimula-se o amador
nega-se a aventura,
silencia-se o desejo
foge-se do amor...

Cobre-se de negro
o espelho que reflicta
a coragem da alma,
habita-se na solidão
de um metro quadrado
e morre-se rodeado de gente
no arrependimento
de nunca se ter vivido.
Impera a inteligência do Espírito.
Ainda é tempo de abundância
na riqueza de se ser feliz,
diferente,
Eu,
É importante o amor;
sentir-me amado,
ter o altruísmo de amar
quem não me ama,
nunca amando,

(de verdade,)
quem, só por egoísmo
tanto me quer...
É importante o amor;
amar
e ser desejado.
Fui tanto
em tão pouco
e um pouco
de tudo.
Esquecido
de mim
no que já fui,
quero ser
mais um pouco,
sem nunca
ao fim
me totalizar.
E ainda
tão pouco,
de tanto.
Se te esquecesses de todos os olhares
e apenas me visses,
não numa imagem que de mim se possa fazer a qualquer contemplação,
mas simplesmente como me dou diante de ti,
na autenticidade da luz que atente,
talvez te descobrisses num ver diferente,
e escassamente fosses o olhar que procuras na paisagem,
onde tudo se confunde, pelas semelhanças que nada proferem.

Se fosses quem és,
no que em ti visses,
jamais temerias a Sombra
que sempre te acossa
e avistarias mais azuis
acima de minha silhueta,
onde apenas ressoam pássaros
recriando para nós nuvens,
em sublimados céus.
Livre sois de ver o amor
que nos habita, quando cruzamos
por entre disfarces, o cerne da alma.
Olha-me com a atenção que merecemos.
Sou o que esperam que eu seja
e o que tenho de esconder.
Na Sombra da grande árvore,
pesa-me a responsabilidade
de todos os ramos,
até os que tocam o céu.
Pressinto alguns dos caminhos
que me vão nascendo
debaixo dos pés,
sem saber que os meus limites
também são medidos
em anos-luz.
Sonho-me
à surpresa
de descobrir-me;
mas quando retiro a persona,
logo me nasce outra de seguida
sem querer...
Um dia,
desnudar-me-ei
de tudo
o que me pretenda
sustentar
ou me deseje
prender
e acabarei por possuir
uma expressão
adulta de liberdade
e o à vontade
de quando era criança.
Terei sempre uma máscara,
para quem não mereça
ver-me o rosto da alma.
O conflito pela sublimidade,
impacienta o entendimento
dos que se preservam,
no caminho das estruturas,
Viciados num poder
que se absoluta e contrai,
sem vislumbrarem as derrotas
necessárias à evolução.
Nos céus desenha-se,
com ângulos de tarefas,
a ordem temporal da vida
sujeita ao caos.
A dona da noite cai
no túmulo sagrado,
enquanto o guerreiro se exila
na persistência do tesouro.
O vento sopra do mar
coagido de incontrolável tempestade,
com o intuito de dissolver
o reino obtuso e circunflexo,
acastelado de desumanidade.
Soltar-se-ão as esperanças
na confusão do terrífico
e os que julgaram ter morrido
estarão renovados de consciência.
Outros sucumbirão cegos,
inabaláveis no orgulho
e mesmo que sobrevivam
não mais serão lançados
ao levante do conhecimento.
A noite será assombrosa
de inquietação,
sem vigília que a ilumine.
E os uivos dos lobos
enfurecidos de frustração,
famintos de vingança,
perder-se-ão num deserto qualquer,
sem dunas que os ampar,
nem cadeira que os sustente,
amanhã
e depois
Indaguei-me.
Procurei-me nas origens,
descobri a escuridão.

Sou o trabalho
e a persistência,
sou a luta
que constantemente se vence,
para que seja outro
e nunca o mesmo.
Ainda ontem rastejava,
hoje, distingue-me
já não a postura,
mas o que escrevo.
Inventam-se mundos,
para que me (re)criem
e eu me iluda a essa importância
e dependa
esquecido do que valho.
Sei de mim
o suficiente,
para honrar todos os progenitores
e olhar a vida
como milagre.
Se não fossem os aviões,
já me teriam nascido asas.
Heroicidade
na batalha dos meus medos,
aliada às crenças
que em mim também povoam.

Necessito
confiar-me ao alto.
Sou esmagado
pela grandeza
do que se reveste sem rosto,
porque me sinto mínimo
e estou cego.
O desígnio
é imortalizar
a humanidade
e dar-lhe uma Alma.
Rejeito em ti
o que em mim temo.
Quero interdepender
e nunca odiar
o teu amor.
Dou-te
o meu sorriso,
exibe-o
confiante.
Abraço-te,
para me sentir
e aceitar.
Precisei de um pai
e o pai fui eu.
De uma mãe 
e a mãe também fui eu.
De quem me amasse
e nunca houvera vagar.
E poucos foram
os que me souberam
transmitir a Verdade
e reconhecer.
Precisei de mim
e nunca lá estive.
Cresci depressa demais,
sem que tenha dado conta disso,
por entre tantos
que se fingiram aparentar comigo,
porque não sabia
nunca o que me ser.

E onde moro eu
em minhas crias;
nos que me chamam de pai
e outros que nem conheço?...
Hoje, tudo se deseja esquecer.
Que o tempo mate
o que marcou a ferros o corpo,
quando jamais, se apagará na eternidade,
o que foi, na alma, desde o início, revelado.
Difícil crescer
num sítio pequeno,
de muros bem altos
e opacos,
cuidadosamente
preservado,
convenientemente
sombrio...

Difícil saber
se o instinto
que pede liberdade,
não sofre
de pretensiosismo rebelde,
coragem imprudente,
inferioridade compensada,
habilitada insubmissão,
e faça perigar
as estruturas
da maioria acomodada
ao que sempre
fora suficiente
e suspeitosamente amargo...
O que me está gravado na alma,
o que se codifica na carne
e o que me foi dito por Deus,
em segredo ao ouvido,
permite-me provocar,
sem angustias,
nem receios,
quem se julga dono da natureza,
e possuidor das chaves dos céus,
e revolucionar
sem arrogância
os regímenes de pobreza...
Quero crescer;
estar à minha altura;
poder tão facilmente
seguir, de bruços,
o carreiro das formigas,
como me pôr em bicos de pés
e mudar o sítio das estrelas.
Este ar rarefeito
envenena os sentidos;
provoquem
correntes de ar...

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

A (r)evolução
esconde-se
no fundo do céu,
aguardando
ordem
para emergir.
E a fé
desperta,
estranhamente,
os sentidos
a todos os ausentes
de realidade.
Quanto mais profundo
for o abismo,
mais forte será o apelo
ao (re)começo.

domingo, 20 de agosto de 2017

A síndrome da perfeição
é a insanidade dos que se imaginam, deslumbradamente, como ninguém;
úicos e grandes.
Quando a natureza é nutante
e apenas devemos ser humanos
e rebulirmo-nos em esguardo pelos outros,
havendo um infinito que a todos esmaga.
Também há quem seja vítima de sofrimentos
e seja mal interpretado,
por ser somente uma comum criatura.
De quem nega a escuridão,
jamais esperarei que advenha Lucidez.
A valorização crítica
e excessiva,
que deposito na envolvência íntima dos afectos,
não será somente projecção de meus medos
pelo indecifrável de minhas inseguranças,
mas talvez do meu incontrolável (ego)ísmo,
na incapacidade de assumir as cotas de minha culpa.

E a introjecção
assimilada de outrem
supostamente por bem-querer.
Eu tenho a chave,
que me pode destrancar
e fazer sair da cela deste meu orgulho,
da solidão,
e ser eu,
mesmo que ainda só.
Difícil será acertar na ranhura
deste ferrugento
e desusado cadeado.
Tentarei
as vidas que forem precisas.
Em liberdade,
poderei sempre cair
nas armadilhas idílicas e contraditórias,
do que me fará crescer,
do grande oceano dos afectos
e afundar-me de paixão.
Mas virei sempre ao de cima,
pronto para dar braçadas,
separando águas,
até pisar terra.
Na inquietante consciência do existir,
a evolução espiritual
é a transcendência dos instintos,
na insegurança de (sobre)viver,
pelo uso Inteligente
de todas as faculdades.
É o poder criativo,
numa coerência incondicional de amor-próprio,
e com o mais intenso desejo e profundo saber,
contribuir para o equilíbrio do tecido Universal.
O Todo:
Eu
e Nós.
Desejo a todo o momento
que se quebre o silêncio.
Procuro em todos os sons
a cura para a minha surdez.
Louco por nada ouvir,
e me ser tonalmente descrito,
crio a melodia da solidão
num ritmo incerto de tempo,
em acordes de dor e medo.
Difícil será ouvir
com a mesma vontade.
Ensaio na razão
o barulho, que me liberte
dos recalcados ressentimentos.
Foste rio correndo
pelo vale dos meus sentidos,
tocando e preenchendo
minhas margens,
arrastando na corrente
minhas mágoas,
onde eu matava a sede
nesse leito maior da tua essência.

Rodeado pelo horizonte
de tua forma,
sentia a brisa quente
de quem expira com ternura,
sopro que lentamente deslizava pela minha pele
num deleitável e breve encontro...
Eras o Sol do meio-dia
brilhando ao cimo de minha vida.
Não sei porque fugi,
procurando na Sombra a protecção,
refugiando-me alucinadamente
no crepúsculo da tarde,
esquecido de tudo, o que era perdido, de ti.
Acabei por morrer
na noite mais longa de escuridão,
porque nunca mais se fez luz
em qualquer parte de mim.
Hoje, foste a alvorada
mais resplandecente
que despertou
meus sentidos.
A tranquilidade
que animou
em vontade
minha alma,
já apagada
por tantas derrotas
e desilusões.
Estou orgulhoso de ti.
Gosto tanto do teu sorriso
aberto para o mundo
e assim, feliz,
agarrando vida
na riqueza da expressão.
És ainda mais bonita;
um arco-íris
que sobressai
de meu enublado cinzento
em feixe de ternurenta paixão.
Envolto por uma nuvem
de cor-sossego,
num céu carregado de anil,
raiado de violeta,
como feto dentro de mater útero,
luto instintivamente
em desespero,
para sobreviver
sem dor ao parto.

(Re)nasço, enfim,
sete luas antes do desígnio,
depois de uma gestação
de três infindáveis Invernos
e de quatro não chilreadas Primaveras.
Ainda não sei se (re)nasci
ou se as são memórias,
antes de ter morrido.
Pouso na suavidade do berço
as cansadas emoções
sem saudade
nem lembranças.
Quero olhar o firmamento
e perder-me a contar estrelas,
mas de pé, seguro pela Terra.
Dói-me nas palavras
o sentido que não emprego
a vontade que encubro.

No significado vazio
dos meus sentimentos,
sinto-me completamente perdido,
sonhando com a coragem
de tão brevemente me conseguir encontrar.
Dóiem-me as memórias
deste corpo envelhecido de crescer,
que espera sucumbir
compreendendo a pureza do Amor.
Criar é uma forma de amar,
de dar e ser possuído.
É a explosão que vem do nada,
a divisão infinita das ideias
na multiplicidade de todos os sentidos.
É a fantasia da alma sofrida
marcada pela realidade da carne.
É o entendimento do tempo no espaço,
na sensibilidade compactada de vontade sem limite.
É a força espontânea
da incontrolada angústia de viver.
É a transparência da semelhança
que nos sobrepõe.
É o envelhecimento do espelho
Quando mais nada resta de nós...
E Deus
criou o homem à sua imagem,
para que ele criasse a sua própria vida.
Necessito voltar ao passado,
viver um breve momento,
o mais comum,
o menos importante,
somente para te sentir,
amar,
aproveitar esse presente.

Nesta pena revivo
pedaços isolados
de tudo o que sou,
choro com saudade
o que nunca serei,
sem conseguir retornar
ao longínquo passado
e mudar o teu presente.
No meu verdejante jardim,
descuidadamente abandonado,
crescem em desordem entrelaçados
arbustos de urze, alfazema e alecrim,
gladíolos e jarros esmagados
sob a grandeza de chifres de veados,
envolvidos com rebentos de jasmim,
ervas daninhas viçosas de orvalho,
manto de azedas amarelo-limão,
desenho sombreado de um carvalho
projectado em movimento lento no chão...
Buxos não aparados cercam a hortelã
e trinco a maçã caída da fortalecida macieira,
debaixo dela durmo, em silêncio a tarde inteira,
eternizando o sono que fora quebrado
pelo romper da manhã.

Acácias, orquídeas, flor costela-de-adão
por borboletas constantemente beijadas,
sardineiras em vermelho misturadas,
com rosas virgens, ainda em botão;
desfloradas por barulhento escaravelho,
com a força de quem procura sobreviver à solidão.
Cardos de tristeza envelhecidos,
trevos de quatro folhas perdidos,
entre rastejantes craveiro e chorão.

De pétalas abertas, sorridentes,
brilhando a céu aberto, em cor garrida,
desnudada, aprumada de corpo inteiro,
ornamentada de beleza-margarida.
Folhas rasgaram o caule e abraçaram-me,
impregnaram-me na alma um doce cheiro...
Preso à terra pela raiz de sua raça,
senti-me estame e em graça,
pelo seu atractivo e sensual gineceu.
Fecundámos-nos mutuamente,
para parir o fruto da sabedoria consciente,
que em nosso ventre em união cresceu.
Senti a cor do verde, o azul do céu,
o odor da terra e dos medos,
senti a vida, medi o tempo, olhei para o fim
perdido no caminho que estava traçado dentro
de mim.
Dancei aos ventos, bebi da chuva, tremi de frio,
Sofri de amor, sangrei de dor, guardei segredos...
No meu jardim pouco cuidado, de natura bravia,
germinaram poucas mas fecundas margaridas.
Nunca murcharam.
Tenho dentro de mim várias vidas
e o buquê de todas elas
é composto por tinta e quatro margaridas.
Se a vida fosse
poesia,
não havia 
poetas.

Mas há
poetas da vida.
Não têm é
vagar
para escrever.
A poesia é
o grande esteio
da vida.
Fazei-a,
poetas.
Tudo o que possuo
agora
é nada.

Recordações
não nos faz voltar
à realidade
de um tempo que já passou,
mas sim a uma fantasia,
que nos leva a sentir dor,
e não in dor,
assim se amou.
E neste sofrimento
te procuro,
com um nó de amargura,
que em mim ficou,
e sem este meu movimento cessar,
em ti, meu amor,
no tempo me aventuro,
sem nos dias
nem em ponto algum te encontrar.
Dependemos
aa (a)normalidade
que nos criou.
Sentimos
medo do tempo.
Intuímos
a grandeza esmagadora
da imprevisibilidade apocalíptica da natureza
e vivemos
em culpa,
pelas exigências altruísticas ao próximo.
Amamos
temendo
a brutalidade de um deus
criado à medida das necessidades
e dos vícios
do Homem.
Esta grande viagem,
épico poema.
Estes versos
e reversos
dos dias
em que me sinto
poesia
e me (re)construo
palavra;
o sonho se confunde
e o medo se desvanece,
O mundo
gira ao ritmo
do meu coração
e eu só adormeço,
quando tudo está pronto,
para amanhecer.
Afogo-me
num espelho d´água,
onde seguro
navega
o olhar
Respirando,
piso
as ondas
Que levanto
E teimo,
nele,
em me prender
pelos pés.
Somos felizes?
Seremos
um dia.

Agora, lutamos,
iludidos de felicidade,
olhando-a
como formiga
que cobiça a montanha,
esquecida
do pequeno grão.
As pré ocupações
são obstáculos
à feitura
do seu ninho
de nossas penas,
na Primavera
de toda a existência.
Seremos felizes,
quando a ave dourada
em nós tiver
livre pouso.
Felicidade?
Liberdade?
Que a liberdade
Ressoe.
A Primavera
brilha no coração
de quem deseja
perpetuar-se em flor,
mesmo depois de parir
o fruto.
Árvore fértil,
a que nasceu
ao solstício
de meu caminho.
Austeridade?!
E como combater este défice humano?

E qual o preço de se ser português,
sem se ser Portugal?
O que se fez da terra?
O que nos dá o mar?
E quem canta
este fado nosso?
(De) Quem somos afinal?
Morreu, um dias destes,
sem se saber ao certo quando e onde,
de desgosto de portugalidade,
um poeta incógnito,
que muito amara a terra
que lhe servira de berço
e a gente que com ele crescera
e todos eram esperança e força
e Uno.
O poeta não aguentou mais sentir
feder a pobreza,
não haver já, mais heróis,
nem fazedores de sonhos,
as sortes só de alguns,
que outros muito esmagavam...
O Espírito estava demasiado contaminado
para que conseguisse dignamente exaltá-Lo,
e ser ouvido principalmente pelos agrilhoados.
E as palavras sucumbiram,
a voz da Alma se desvanecia
e por fim com os últimos versos confusos, mas afiados, que escrevera,
cortou os pulsos, para que lhe faltasse sangue e parasse o coração.
Enquanto se perdia do corpo
se despediu escrevendo
Morram os traidores, para que se salve Portugal.
Sem querer, atraio
o que mereço para crescer.
Sem querer, me deparo,
com o que jamais quis ver.
Sem querer, faço
tudo o que sempre recusei.
Sem querer, penso
sobre o que nunca confrontei.
Sem querer, digo
o que a alma em mim contém.
Sem querer, abrigo
Aquele que diz, vir por bem.
Sem querer, caminho
ao lado de quem mais precisa.
Sem querer, ouço
quem sabiamente me avisa.
Sem querer, amo
na esperança a quem me dei.
Sem querer, não esqueço
mágoas, que nunca provoquei.
Sem querer, respiro
o ar poluído, da multidão.
Sem querer, sofro
pelo egoísmo da solidão.
Sem querer, luto
por tudo aquilo que acreditei.
Sem querer, sou
todos, com quem me cruzei.
Sem querer, habito
no sonho que há em mim.
Sem querer, eu quero
Ser coerente comigo, até ao fim.
Muitos me olham
e poucos me vêem.
Outros já não me (re)conhecem.
Uns quantos se esqueceram da minha existência.
Eu também me resguardei demais,
como se o frio do Inverno me fosse fatídico
e houvesse porta sem fechadura,
para que da casa de mim nunca saísse.

Mas já faltam poucos dias,
para que o Sol se cruze em outro desígnio
e se eleve no céu como Primavera da promessa
e me nasça um tapete de lírios brancos
e flutue eu no seu benigno aroma
e haja um abóbada anilada,
para todos os voos de chilreados cânticos
e muito amor para quem vier a habitar o próximo jardim.
Que seja veste o tempo ameno
e que a humanidade nunca mais se faça noite
e haja sempre luz para o sofrimento
e me construa eu nuvem sem qualquer vento
e evapore no coração de toda a arte do ser
e sintam como se fosse a borboleta que anuncia o renascimento,
que se exclama da Mãe-Terra,
a que existe no centro do Universo.
Conhecemo-nos tão mal
e o pouco que sabemos de nós, nos convence
que entendamos quem já somos.
E quanto mais compenetrados,
mais iludidos.

Temos um corpo,
mas somente o que o (re)veste
e caracteriza,
contemplamos,
E pensamos tanto,
sem nunca saber
o que nos faz pensar
e obriga a viver.
É o Medo que nos faz diferentes.
A Mãe é a mesma.
O Assolador
Vai no encalço das vítimas
Como inócuo
Ou prejudicado
Na exactidão do que planeia
Não há mal
Que não se arme em bem
E o bem nasce da Sombra
A todo o instante
E transmuta-se em Luz
E revela-se na dor
Sem queixume
Há que ser o Todo
Para que se escolham
Quais as parte
Estamos mortos
Resta-nos apenas saber a hora exacta do óbito

Ainda há quem engane o tempo
Fingindo-se feliz
Num deslumbramento de artifícios
Ignorando a dor de seus irmãos
Como se nada lhe fossem
Não os conhecesse
Fosse filho único
Ou tivesse somente aquela velha família
A habitual a que lhe convém
Para assim se escapulir
De se ver ao grande espelho
E observar mais além do que reflecte
Com apenas um olhar súbito
Ainda há quem tenha posses
E crê ser rico
E vista a persona que mais impressione
E seja aquele generoso com intuito de provento
E se venda às ilusões
Dos que se fazem de poderosos
E humilham os que tudo têm mas de seu
Real e pura essência
Ainda há quem se falseie de vivo
Por entre tanto desalmamento
Com coração empedernido
Não fazendo esforço para reflexionar
Como se o seu umbigo fosse o centro de um qualquer universo
E a sua jovialidade e beleza permanecessem eternas
E houvessem deuses apenas para o servir
O que nos poderá fazer acordar desta Morte
Senão o conhecimento do Amor
Só há uma condição para a existência
Aceita com matura alegria
Não com risos que encubram tristezas
A superficialidade dos tolos que se quebram todos os dias como heróis
Cada um só será ele mesmo
Quando sentir os seus todos do Todo
E por Ele for
Há males e males
todos somos vítimas de algum mal
contudo persistir nos erros
é a imbecilidade que nos torna cada vez
mais infelizes
O maior mal dos males
é não se ter consciência do mal
O preconceito cria a burocracia convincente
num embargue ao Amor
preferindo que as inocentes almas
pilares do emergente futuro
vivam submissas ao desconforto mecanizado dos afetos
em vez de lhes darem um arco-íris de abraços
emberçado em corpos despidos de amargura
onde brilha como sol o idear
e bate com apego um coração
Um dia há-de morrer a hipocrisia cega
dos que nunca nasceram já fruto
A Felicidade maior mora
Onde nos queremos sentir bem
E se possível com alguém
Que no amor que se dê
Seja cúmplice da mesma verdade.
Procuramo-la
Para que a descubramos in petto
Animados
Nos momentos breves
Que nos incidem
Pela nossa fértil essência
Saint Louis,
que mais nos irá afligir?
E assim deveríamos, até lá,
estar bem despertos,
ao dia em que partiste
já em território da rainha virgem...
Neste instante, se pressente a inquietação vinda da Sombra,
que agitará os mares da (des)ilusão
em conflito com uma espada
que fará de flecha do grande arco
para que se mate em Tempo;
desvaste ideologias e exacerbadas crenças,
instigue a novas estruturas...
E nuvens de pássaros apagarão a dona da noite,
com seus voos de fogo
e cada vez mais sumidas ficarão as estrelas
da mais recente constelação...
E por entre tantas incertezas
dos rios em saber seus leitos
a corrupta luxaria sofrerá enxurradas
e perderá mais uma de suas empedrenidas personas
no lodo que ela própria gerou;
afundando-se sem que se aviste
a mais quimérica barca de fictícia fortuna.
Não há como minimizar o risco,
perante o que ainda se tem a viver,
mas sim agarrar as armas
que fomos construindo
para que pacientemente
nos consigamos transcender.
Para quê fugir do abismo
se é necessário conhecer a morte,
para que ainda nos seja possível mais primavera?
Em cada batalha,
o grande adversário está em nós.
Os outros são meros figurantes
que fabricamos para nos confundir
ao fim que mais importa vencer.
Defendei-vos
dos encantadores de almas,
que vendem 
a espiritualidade ao quilo;
merceeiros de promessas,
agoureiros de futilidades...
Do peneireiro,
no anagogismo do Verbo.
Não vos deixeis enganar
pela vã solidão.
Não há palavra mais terrificante
que defina a veracidade do hoje,
senão;
hipocrisia.
E continua-se a falar de Amor,
como se a santidade habitasse os corações
e as mentes fossem capazes de soluções eficazes.
A dor
e os lamentos,
a solidarização
e o abstracto,
e um altruísmo
metafórico.
Não é este o país
que aprendi a desejar,
me fizeram crer,
onde nasci
e me fiz...
Não é!...
Não pode ser!...
Já não existe o país que sonhei;
perdi-lhe as fronteiras
e a esperança.
Não sei da terra,
não sei de um pai,
nem como, aqui se (sobre)vive
sem afeição!...
Sei de alguns privilegiados
e seus cúmplices,
sei de muitos (des)iludidos,
e dos que fingem dormir...
Haja,
quem, ainda fale
a mesma língua,
para que, se entenda
igualdade,
e seja, voz forte
a alvorada,
e palavra
a liberdade,
e país para os sonhos.
Só se compreende a alegria plena,
depois de se vencer
todo o desassossego.
Sorrir é complacência.
Viver em allegro é um desafio.
Convicto,
em esforço,
conquisto, 
a toda a hora
a realidade
que me faça feliz,
e não mais teimarei,
por capricho, a fuga,
pelas (des)ilusões,
nem os aprisionamentos
em silencioso sacrifício
aos deveres,
sustentados pela culpa...
Espero
que a liberdade,
me invada,
e eu, a saiba habitar,
e quebre
com todas as rotinas
que têm servido
de contraponto
ao medo do caos,
e me (re)componha
em consonância...
Convicto,
em esforço,
conquisto-me.
Não consigo pressentir,
a grandeza de tudo o que existe
e vai para além de mim
até ao infinito,
(endoideço de pensar),
nem imaginar,
o quanto ainda desconheço,
enquanto houver aldeia que me
habite
e prenda as vistas,
e a alma,
esconda a outros horizontes,
nunca contemplados
e seja surpreendido pelo inevitável,
e iniba de ser mundo
e Eu.
O caminho
nunca se constrói de certezas;
mas de imprevistos
e resoluções.
E há a desmedida ambição,
as (in)verdades da sobrevivência
e indissolúveis (des)culpas.
E basta que o galo
cacareje apenas uma vez,
e depois de tudo,
para que se ponha fim
à noite,
e se queira escutar
a luz
e ser manhã.
O fanatismo é a ignorância da fé,
a insegurança maior
de quem mesmo com asas de esperança
só consegue ter poiso
dentro de sua própria gaiola.
Quem crê, não duvida
e aceita-se na vontade do Todo,
com a tolerância que eleve a sua diversidade,
para que se (r)evolucione.
Os dogmas não servem toda a realidade
Se o Homem
é ser inteligente
não pode haver
pobre e rico,
rico e pobre...
E assim, se prove, afinal,
a pobreza de seu espírito.
Há-de nascer
a elite dos homens bons,
sem mistérios,
nem silêncios e magias,
sem os disfarces do poder
que humilha
quem, sem querer,
carrega a Sombra da servidão.
É urgente
(re)criar o Homem,
ser inteligente
e humanista (re)criador
Alcança-se, já o fim
desta última estrada,
há muito, por outros iniciada,
sem se pressentir lá, outra.
A paragem
será surpreendente
e animada
pela (r)evolução das passadas,
ao traçado
e às estruturas
do caminho do arco-íris.
E não chegará boa vontade
para que nasçam,
prematuramente,
flores de primavera...
Os frutos
levarão outro tanto tempo,
até que caiam maduros de saber
e de gente.
Ser levado pela estrada,
não é construir o caminho
que tenha o fim
que todos lhe queiram dar.
Cria
e (re)ver-te-ás
nos filhos,
na obra...
Olha-te
e completa-te,
para que assim, atinjas
melhor o teu
Criador.
Descobre-te no caminho
e acharás a grande estrada
limpa do que te aflige,
do que não és capaz,
do que te faz sentir (i)mundo
de desassossego...
Fecha-te ao engano,
do que sem querer,
constantemente procuras,
para que te distraia,
e fujas assim, ao silêncio
do encontro, a sós,
com a tua real imagem.
As passadas da consciência,
que te firmam ao chão,
doem,
mas também te abrirão
as asas de ser,
ao anil
e ao céu,
ao amor por descobrir,
e a tudo,
e ao Todo.
Gostaria
de ser mais igual,
a mim próprio,
para ser diferente,
de pintar a minha alma
de alegria
e primavera,
e que todos os pássaros
me reinventassem
o céu.
Abril
é poesia,
é fonte de esperança,
é luz de liberdade,
é um Tejo, que me desagua,
de prazer,
em águas de fraternidade.
Abril
somos nós,
aos molhos, pelo mundo,
como cravos,
ao rubro,
floridos de palavras
em português
e declamando os poetas
e o nosso sonho.
Abril
foi ontem,
mas poderá ser
mais logo,
outra vez.
Do monte,
onde se fez Páscoa,
e poisou o primeiro olhar
ao começo da descoberta,
avista-se além Atlântico
o contorno de um poeta
que está virado para o mar,
brincando aos navegantes
com barcos feitos de papel;
o que serviu seus escritos
e onde rabiscados
foram sonhos...
O poeta
tem na memória
a aventura,
no barulho das ondas
o apelo ao caminho
de Iemanjá.
Nem sempre sei
o que digo,
e nem sempre alcanço
o que me é dito.
E atraso-me,
ou finjo estar adiante,
no entendimento
do caminho,
por que temo
o (des)encontro.
Se mergulho em convicções,
para me esconder;
dificilmente vislumbrarei
os horizontes da minha salvação...
Ansiosamente
sinto o(s) momento(s)
com a intensidade de uma vida,
como se tivesse pressa de morrer...
Não caibo
em qualquer vontade,
mas a compaixão
destrói-me
perante as vítimas
incapacitadas de querer.
Antecipar-me
por expectativa,
(re)criando-me erradamente,
faz desdobrar-me
em personagens;
nados-mortos
à felicidade.
O tempo ensina-me;
tudo devo aceitar
sem prazo...
Não me posso limitar,
a este corpo que ocupo,
devo ceder-me
aos movimentos
que me arrastam para além
do que a minha força
alcança...
A verdade
é tão simples,
a natureza é pura,
a imaginação,
infinita...
Mas a mente,
também sabe ser perversa...
Das emoções
explodem palavras.
Letras eclodem
no fluorescente luar.
Magicamente
reflecte-se poesia
nas linhas onduladas de prata
e espraiam-se poemas-espuma,
beijando os sonhos do poeta
adormecido de soletrar
o mar.
Dissolvem-se
castelos metáfora
e esculpem-se na areia lavada,
com o peso da alma,
breves memórias
de tão sentimental passagem..
Procuro gerir
a realidade que me cerca,
sonhando,
mas não me afogo
de expectativas utópicas,
sofrendo.
Quero ser feliz
ao minuto,
saboreando
cada segundo,
convicto do que sou
e do que somente possuo.
Conquistarei
o mundo
se disso for merecedor.
Morro todas as noites
ao adormecer
e renasço bem cedinho,
quando a luz do desejo
alvorece dentro de mim.
Cada vez mais
me pareço comigo,
por cada dia
que ressurjo.
Sigo-me num fado
sem saber para onde vou,
nem o que serei
no que me for preciso,
depois de hoje
e de amanhã...
Morrerei
sempre
que viver
queira.
Persisto
na ombreira,
de porta entre aberta,
olhando
timidamente
o que acontece
fora de mim,
ansiando
que caiba o mundo
no interior
de minha alma.
Se não tivesse medo de amar
não vos cobraria
a minha felicidade.
O risco da perda
leva-me ao abismo
do ganho.
A humilhação
ainda tem género,
vergando-se à terra
e a face do poder
tem expressão viril.
A minha coragem
é feita entre
fraqueza
e receios.
E assim,
me vou sentido
herói dos dias.
No ceio
de todo o conflito
está o sexo;
os papéis
e a identidade,
a (pre)dominância
e o poder
do género...
E o amor?!
Fá-lo de ti,
na vertical,
viril essência
da condição humana.
Fértil
e mãe
é-nos a Terra.
Cada vez menos me confunde,
como me pareço...
Não é o que sou,
que importa,
e sinto-me em casa,
na pele
que me protege
a alma,
mas os sentimentos
que cultivo.
O que me (re)veste o pudor
é o olhar incriminatório
dos desprovidos de liberdade.
Como é grande o mundo
que eu sonho inventar
e ainda agora (re)nasci...
Tenho muito tempo,
até me multiplicar
para me saber
e chegar a hora
de sair do quarto.
Se me sofistico
e afasto
das raízes,
perder-me-ei
por ambição
ao que não tem fim
e serei escravo
do que nunca quis,
mas desejei...
Se me sofistico
esquecer-me-ei,
entre muitas coisas,
de que ainda hoje se morre
por não se ter o essencial,
e cairei no fosso
da (in)satisfação
pelo inexequível...
Se me sofistico,
morrerei por me (des)iludir
ou acabarei, sozinho,
como um qualquer deus,
supostamente
(i)mortal.
E louco!...
A colheita
dignifica-me,
desde a sementeira
e tenho tanta gente
a querer-me bem,
ao natural.
Acordo
e ponho os pés no infinito.
Pouco convicto
de que se me faça dia
sem Sol suficiente
às surpresas
e aos confrontos.
Regresso aos limites
da minha segurança
e descanso,
sobre o meu aconchego.
Cubro-me,
com a esperança
que me prepare
a vencer-me
e a habitar a liberdade
lá fora;
quando me for conveniente
o tempo
e o estado de espírito.
Escreves;
a medo,
em suaves linhas,
timidamente direitas,
inventadas expressões
ao agrado dos seduzidos,
na pele de desinteressada,
com laivos de resignação,
como indulgente...
Leio-te;
despido de preceitos,
nas entre linhas dos instintos,
nos demónios a que te prendes,
nas fúrias dos argumentos,
na desdita dos ditos,
na alucinação dos perseguidos,
nas sombras da rejeição,
no amor ferido,
orgulhosamente déspota,
pérfido,
maligno...
Não sou mais
obrigado a ler,
o que me teimas
em escrever
Que vejo?
Tão pouco.
Vejo somente
o que (re)conheço
e pouco mais.
Vejo até ao horizonte
e quase nada.
Vejo, mas pouco alcanço.
Tenho por hábito
os olhos abertos.
Vejo tudo aquilo por onde passo,
mas lembro-me vagamente
do que não me cegou.
.
Olho-me,
e através das palavras,
avisto-me nitidamente
até ao infinito.
Vê-te como palavras
e sente-te na minha alma.
Descobre-te na liberdade
dos meus sonhos
e segue o destino
que te fará de todos,
ao ritmo incandescente
do meu coração.
Bebe da alegria
de ser em ti manhã
quando te penso
e ouve-me no canto
de todos pássaros
declamando esperança.
Enfeita a lapela,
do teu já composto dia,
de ostentoso girassol,
colhido no jardim
dos meus sentidos
e abraça as árvores,
tão verdes,
de teus versos.
Olha-te nas palavras
e (d)escreve-te,
descomprometido de rimas,
poema...
Abre as janelas de ti,
para que a vida me leia
e possua para além
das palavras,
e do meu silêncio
Ouço o voar da gaivota
sobre o azul agitado do mar.
Entrego-me ao vento
e no baile com o vento,
imagino-me ao vento a voar.
Desejo em liberdade
deixar esta terra que piso,
soltando-me
sobre o azul agitado do mar.
Sonho
e sou pássaro
cansado de pousar
e voo até que a força
desta vontade
esmoreça
e se afogue
no azul profundo do mar.
E acorde eu, com pena
de nunca ter conseguido voar.

Talvez neste próximo ano Te devas confrontar com o que não expurgaste De estranho ou impuro de silencioso ou de mistérios E tudo se acum...